O presidente Donald Trump tem justificado a sua agenda política invocando sua esperança de chegar o céu depois de morrer. Mas sua busca pelo paraíso eterno está condenada a falhar, disse o presidente no domingo (12).
“Não acho que haja algo que vá me levar ao céu”, disse Trump a repórteres a caminho de Israel no Air Force One, após ser questionado se o acordo de paz que ajudou a mediar entre Israel e o Hamas aumentou suas chances. “Acho que não estou, talvez, destinado ao céu.”
Trump tem insistido em seu propósito divino, especialmente depois que a bala de um assassino roçou sua orelha em julho de 2024. “Fui salvo por Deus para tornar a América grande novamente”, disse Trump ao aceitar a nomeação republicana à Presidência cinco dias depois. Ele fala há uma década sobre sua renovada fé cristã, às vezes tropeçando em princípios fundamentais da religião enquanto buscava apoio entre os evangélicos, um importante grupo de eleitores do Partido Republicano.
Nos últimos dois meses, o presidente de 79 anos tem refletido repetidamente sobre a vida após a morte —ora de forma contemplativa, ora melancólica e até autodepreciativa. (No domingo, Trump admitiu que estava sendo “um pouco brincalhão” sobre sua recente fixação no além.)
Ele tem invocado essa ideia como razão para promover a paz no exterior.
“Quero tentar chegar ao céu, se possível”, disse Trump no programa Fox & Friends em 19 de agosto, explicando seus esforços para mediar um acordo entre Ucrânia e Rússia. “Estou ouvindo que não estou indo bem. Estou realmente na base da pirâmide. Mas se eu conseguir chegar ao céu, isso será uma das razões.”
Ele também citou a vida após a morte como motivo para ser bom em casa.
“Se você não é crente e acredita que não vai a lugar nenhum, qual é a razão para ser bom, realmente?”, ponderou o presidente dois dias depois no programa de rádio do comentarista conservador Todd Starnes. “Deve haver algum tipo de boletim lá em cima. Sabe, tipo ‘vamos para o céu, vamos entrar no céu’.”
E ele mencionou isso quando questionado sobre sua decisão de lançar uma nova iniciativa de oração [por ocasião dos 250 anos de independência dos EUA, em 2026] pelo apoiada pela Casa Branca na semana passada.
“Quero ser bom porque você quer provar a Deus que é bom, para então passar para a próxima etapa, certo?” disse Trump a repórteres. “Então isso é muito importante para mim.”
Trump nem sempre provou sua credibilidade para líderes cristãos na Terra. O papa Francisco, que morreu em abril, e seu sucessor, Leão 14, criticaram o tratamento dado por sua gestão aos imigrantes. Alguns líderes religiosos também condenaram sua retórica inflamatória, sua repressão às cidades, o uso da fiscalização de imigração em hospitais e escolas, seus esforços para enfraquecer programas federais de assistência social e uma representação de Trump como o papa na Casa Branca, entre outras transgressões percebidas. Organizações de fiscalização o criticaram ainda por corroer os limites historicamente estabelecidos entre igreja e Estado nos Estados Unidos.
A Casa Branca às vezes repreendeu grupos religiosos que criticaram Trump, enquanto outros líderes espirituais, como o reverendo Franklin Graham, defenderam firmemente o presidente. Cristãos conservadores continuam sendo seus apoiadores mais fiéis. Em uma pesquisa Washington Post-Ipsos realizada de 11 a 15 de setembro, 82% dos protestantes evangélicos brancos afirmaram aprovar a atuação de Trump como presidente, quase o dobro dos 43% de todos os adultos que o apoiavam.
Enquanto outros políticos e líderes mundiais podem ter pouca influência nos portões do paraíso, eles pediram que Trump recebesse o Prêmio Nobel por seus esforços para promover a paz global. Grupos israelenses chamaram Trump nesta segunda-feira (13) de salvador por seu trabalho para encerrar a guerra regional.
Funcionários do governo afirmam que a preocupação de Trump com o além é séria.
“Acho que o presidente quer chegar ao céu, assim como espero que todos nós nesta sala também queremos”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, a repórteres em agosto.
Líderes cristãos há muito oferecem instruções sobre como alcançar a terra prometida, muitas vezes com uma mensagem simples: peça perdão e coloque sua fé em Jesus.
“Você se arrepende e acredita, acredita em Cristo”, disse Billy Graham, pai de Franklin, em um sermão de 1993.
Trump, que há uma década disse a uma plateia cristã conservadora que nunca havia pedido perdão a Deus, afirmou no domingo à noite que estava focado em outras formas de felicidade.
“Posso estar no céu agora enquanto voamos no Air Force One”, disse Trump a repórteres. “Não tenho certeza se vou conseguir chegar ao céu, mas tornei a vida muito melhor para muitas pessoas.”