O presidente Donald Trump desembarcou em Israel na manhã desta segunda-feira (13), minutos após a libertação do primeiro dos 20 reféns pelo Hamas, e passou o dia recebendo os aplausos de um país que lhe dá crédito, mais do que ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, pelos alegres reencontros familiares e pelo cessar-fogo após dois anos de guerra.
Trump aproveitou o momento para dizer ao Knesset, o Parlamento israelense, que este “não é apenas o fim de uma guerra, este é o fim de uma era de terror e morte”. Usando uma frase que outros presidentes adotaram —e muitas vezes se decepcionaram—, ele acrescentou: “Este é o amanhecer histórico de um novo Oriente Médio“.
Raramente um presidente americano, especialmente um tão controverso internamente quanto Trump, foi recebido com tanta adulação no exterior. Na Praça dos Reféns, dezenas de milhares gritaram “Trump, Trump”, e no Knesset alguns membros usavam bonés vermelhos no estilo Maga [acrônimo em inglês para o slogan “faça a América grandiosa novamente”].
Netanyahu, cujo nome foi vaiado na mesma praça na noite de sábado (11), declarou que o presidente era “o maior amigo que Israel já teve na Casa Branca”. Houve mais conversas sobre sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz e ao Prêmio Israel.
E Trump surpreendeu os parlamentares israelenses ao fazer duas ofertas ao Irã —um país que Israel e os Estados Unidos bombardearam há apenas quatro meses— para iniciar negociações que poderiam pôr fim a décadas de inimizade e isolamento.
“Sabe o que seria ótimo se pudéssemos fazer um acordo de paz com eles?”, disse. “Você ficaria feliz com isso?”. Ele acrescentou: “Acho que eles estão cansados”, mas a oferta não provocou uma resposta entusiasmada.
Houve aplausos mais entusiasmados quando Trump descreveu os assassinatos de cientistas nucleares iranianos por Israel durante os 12 dias de bombardeio do país, ou quando detalhou o número de bombardeiros B-2, reabastecedores e aeronaves de apoio que lançaram bombas destruidoras de bunkers em Fordow, Natanz e Esfahan, as principais instalações iranianas de enriquecimento nuclear.
E logo abaixo da superfície havia divergências óbvias sobre o futuro da Faixa de Gaza e até mesmo sobre se o cessar-fogo que finalmente está permitindo o fluxo de alimentos e medicamentos para o território levaria necessariamente a uma paz duradoura. “A guerra acabou”, disse Trump a repórteres, tanto no avião presidencial americano quanto nos corredores do Knesset.
Netanyahu foi muito mais cauteloso, comemorando a libertação dos reféns e o fato de nenhum israelense vivo estar sendo mantido em Gaza pela primeira vez em anos, enquanto se recusou a discutir se Israel retomaria as hostilidades se o Hamas não se desarmasse ou deixasse o território. O Hamas nunca concordou com essa parte do plano de 20 pontos de Trump, e suas milícias já estavam se movendo para bairros dos quais Israel havia se retirado nos últimos dias.
E mesmo enquanto Trump estava em Jerusalém, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou que o Hamas havia libertado os restos mortais de apenas quatro dos 28 reféns que morreram em cativeiro. “Cada atraso ou evasão intencional será considerado uma violação contundente do acordo e será punido de acordo”, publicou ele no X.
Trump optou por ignorar os possíveis obstáculos à frente. Em seu discurso, desviou-se do texto para avaliar a personalidade de Netanyahu: “Ele não é o cara mais fácil de lidar, mas é isso que o torna ótimo”. Ele falou longamente sobre as horas de conversa que seu enviado especial, Steve Witkoff, teve no início deste ano com o presidente russo, Vladimir Putin.
Witkoff, um investidor imobiliário de Nova York, foi descrito por Trump como “um Henry Kissinger que não vaza informações”. Kissinger, conselheiro de segurança nacional e secretário de Estado dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, era um mestre em vazamentos egoístas de informações para Washington.
Exceto por breves referências, Trump não falou sobre o que seria necessário para reconstruir Gaza, ou sobre o futuro do povo palestino, ou sobre as compensações entre a criação de um Estado palestino e suas alternativas.
De fato, quase não houve discussão pública sobre a implementação de seu plano de 20 pontos, exceto pelo fato de que ele se reuniu com Estados árabes ricos e governos europeus que deveriam formar uma força internacional de estabilização ou financiar a reconstrução do território devastado.
Nesse sentido, elementos do discurso de Trump deram outro vislumbre de sua política externa. Ele elogiou os países por sua força militar, especialmente Israel, que, segundo ele, emergiu “mais forte, mais respeitado” do que antes.
Dois anos de conflito com o Hamas, com o Hezbollah e com o Irã certamente provaram que Israel era a potência mais forte da região. Mas Trump não discutiu seu isolamento diplomático, já que as potências europeias abraçaram a ideia de um Estado palestino separado, em parte devido às numerosas mortes civis causadas por ataques israelenses.
Como de costume, Trump argumentou que os países tomariam decisões com base em seus interesses econômicos —que aderir aos Acordos de Abraão, por exemplo, aumentaria o comércio. Mas o Oriente Médio está repleto de nações, grupos religiosos e organizações terroristas que entraram em guerra mesmo quando isso colocava em risco todo o progresso econômico. A Rússia fez o mesmo ao invadir a Ucrânia.
Houve desvios da norma. Trump não é conhecido por cultivar alianças, mas expressou gratidão “por todas as nações do mundo árabe e muçulmano que se uniram para pressionar o Hamas”. No entanto, ele disse pouco sobre como aproveitar o impulso dessa nova cooperação.
Houve protestos em Israel contra a visita de Trump, e dois parlamentares de esquerda pertencentes a um partido político conjunto palestino-israelense foram escoltados para fora do Knesset por exibirem cartazes que diziam “Reconheça a Palestina!”. Eles foram rapidamente detidos, e Trump franziu os lábios antes de dizer: “Isso foi muito eficiente”.
Ayman Odeh, um dos dois legisladores, escreveu nas redes sociais que os discursos no Knesset não absolveriam Netanyahu “dos crimes contra a humanidade cometidos em Gaza”. Mais tarde, ele acrescentou: “Há dois povos aqui, e nenhum deles vai embora”.