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Desaprender estereótipos levará a futuro menos desigual – 13/10/2025 – Lorena Hakak

Uma pergunta que sempre surge quando falamos que as mulheres ganham menos que os homens para as mesmas tarefas é: o quão diferentes são homens e mulheres? E até que ponto essas diferenças potenciais explicam os salários que observamos?

Na percepção geral, prevalece a ideia de que homens e mulheres são profundamente diferentes, em parte porque fazem escolhas educacionais e profissionais distintas. Mas será que essas escolhas se explicam por diferenças de habilidades, preferências ou traços psicológicos? Seriam os diferenciais salariais apenas uma consequência disso? Ou, ao contrário, será que homens e mulheres são semelhantes nessas dimensões, mas enfrentam oportunidades e barreiras distintas que resultam em menores salários para elas?

Existem estudos que apontam que as mulheres seriam menos confiantes e competitivas. No entanto, pesquisas mais recentes mostram que boa parte dessa diferença –por exemplo, na confiança– decorre da crença difundida de que as mulheres são menos confiantes do que os homens, e não de evidências concretas de falta dela.

Nesse mesmo sentido, a psicóloga Janet Hyde, no artigo “The Gender Similarities Hypothesis”, publicado em uma revista americana de psicologia, apresenta evidências de que homens e mulheres são semelhantes na maioria das variáveis psicológicas, embora não em todas.

Seu estudo resulta da revisão de 46 artigos. A autora não encontra diferenças significativas entre homens e mulheres em habilidades matemáticas, verbais, autoestima e liderança. As únicas diferenças consistentes dizem respeito à força física, às habilidades motoras e à propensão à agressão física.

Neste sentido, os estudos acadêmicos mostram que os salários menores das mulheres, e as progressões de carreira menos frequentes, parecem decorrer de diferentes barreiras e restrições enfrentadas por elas.

Questões culturais, como a responsabilidade pelo cuidado dos filhos e pelos afazeres domésticos, explicam, em boa parte, a penalidade adicional imposta às mulheres que são as principais cuidadoras —mães ou cuidadoras de idosos— no mercado de trabalho. Há estudos, inclusive, que mostram que os pais são bonificados no mercado de trabalho por terem filhos, devido à percepção de maior responsabilidade atribuída aos homens que se tornam pais.

A professora Barbara Petrongolo (Universidade de Oxford), durante o encontro deste ano da Sociedade de Economia da Família e do Gênero (GeFam), realizado no IDP em Brasília, proferiu uma palestra trazendo evidências de diferentes partes do mundo sobre como os estereótipos persistem e são difíceis de mudar. Assim, questões culturais podem ser transmitidas de geração em geração por meio das famílias, escolas, empresas e da própria sociedade.

Estereótipos e expectativas sociais são aprendidos e, portanto, também podem ser desaprendidos ou alterados. Transformar a cultura é, afinal, um esforço coletivo que nos aproxima de um futuro em que meninas e meninos possam sonhar e realizar com a mesma liberdade.

Romper esse ciclo passa pela educação, pelas políticas públicas e pela forma como avaliamos o papel de mulheres e homens na sociedade. Incentivar meninas a explorar todas as áreas do conhecimento, dividir de forma justa o cuidado dentro das famílias e promover ambientes de trabalho mais equitativos são passos fundamentais.

Essa coluna foi escrita em conjunto com a professora de economia da FEA/USP Paula Pereda.


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