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São Paulo Fashion Week quer que a moda faça público sonhar – 12/10/2025 – Ilustrada

Quem se interessa por moda foi bombardeado, nos últimos dias, por imagens de um sistema solar cenográfico montado na locação do desfile da Chanel na Semana de Moda de Paris, e de uma modelo sorrindo e batendo palmas ao final da apresentação, antes de abraçar o estilista Matthieu Blazy, que fazia sua estreia na marca.

Também circularam ininterruptamente nas redes sociais fotos das nova bolsas da grife francesa, a exemplo de uma com aspecto amassado e exterior metalizado que vai atrair olhares por onde passar. Fora outra, maior, em camurça marrom e com o clássico logotipo dos dois “c” da Chanel entrelaçados.

Isto tudo representa o atual estágio da moda, seja ela de luxo ou não —a fabricação de cenários e de momentos para serem registrados e viralizarem nas redes sociais, fazendo com que a marca esteja sempre na sua cara, por um lado, e por outro o esforço em construir desejo no consumidor, traduzido em produtos de estética impecável.

É neste contexto que a São Paulo Fashion Week, a principal vitrine da moda brasileira, chega à 60ª edição e comemora seus 30 anos de existência. A partir desta segunda-feira, 38 desfiles ocupam diversos pontos da capital paulista durante uma semana, dias nos quais os fundadores do evento, Paulo Borges e Graça Cabral, esperam que as passarelas tragam um pouco de fantasia à vida.

“A gente está vindo de um tempo em que não é mais possível sonhar, não é mais possível ser feliz, criar. A gente está fazendo uma passagem dura de século. E a moda resolveu que ela vai falar do sonho. Então talvez esse sorriso no final [do desfile] da Chanel tenha a ver com isso. A moda pegou para si a responsabilidade de fazer as pessoas sonharem novamente”, diz Borges.

Claro, a verba da Chanel para fabricar um sonho tem vários zeros a mais do que a das marcas brasileiras, mas isto nunca impediu a São Paulo Fashion Week ou os estilistas que dela participam de criarem as suas fantasias. Na construção deste universo imaginado, um dos elementos é a locação dos desfiles.

Flavia Aranha apresenta sua nova coleção, de roupas baseadas na arquitetura das folhas, no parque Trianon, uma reserva de Mata Atlântica no meio da cidade. Ronaldo Fraga, que retorna ao evento depois de um hiato de seis anos, mostra uma temporada com muitos bordados no Museu da Língua Portuguesa, local adequado para a homenagem que seus desenhos vão fazer a Milton Nascimento.

Marcelo Sommer, um dos pioneiros da moda autoral brasileira, estreia sua nova marca Uó numa academia de ginástica, onde vai mostrar camisetas esportivas desconstruídas e em seguida reconstruídas. A passarela de Dario Mittmann, estilista expoente da geração Z, será uma brincadeira com o tabuleiro do jogo Banco Imobiliário.

Gloria Coelho comemora 50 anos de moda como uma das mais longevas e respeitadas estilistas brasileiras com uma apresentação num trem em movimento, e a Forca desfila looks oversize em couro no aeroporto Campo de Marte, junto a um avião gigante da Força Aérea Brasileira.

Numa escala mais modesta, mas igualmente cheia de paixão, criadores de moda da periferia de São Paulo, com idades entre a adolescência e os 50 anos, desfilam looks que produziram para o projeto Cria Costura, voltado para a formação de quem tem menos oportunidades. A ideia, conta Simone Nunes, a mentora da turma, era fazer algo mais conceitual, e por isso o tema da apresentação foi o balé da escola alemã Bauhaus, baseado em figurinos que limitam os movimentos.

Uma das transformações que a São Paulo Fashion Week acompanhou em seus 30 anos foi a explosão da internet e como ela alterou a mecânica dos desfiles e influenciou a circulação das imagens de moda. A presença de influenciadores na plateia, registrando tudo, e o conteúdo que produzem das marcas deram muito mais divulgação ao evento, que passou a chegar a quem antes achava que ver e consumir roupa bonita era só para a elite.

Mas os influenciadores também invadiram espaços que talvez não lhes pertençam. Borges afirma que, quando os modelos começaram a ser substituídos por personalidades da internet nos desfiles, ele conversou com as marcas e as agências para que repensassem. “Muitos desses influenciadores estavam na passarela sem razão de estar, simplesmente porque é uma pessoa que tinha audiência”, ele diz, acrescentando que o foco recaía nas celebridades das redes e não nas roupas.

Graça Cabral, cofundadora da São Paulo Fashion Week, lembra que a semana de moda paulistana foi uma das primeiras do mundo a transmitir os desfiles online, ao vivo, o que hoje é corriqueiro nas temporadas de Londres, Paris e Milão. Isto certamente ajudou a moda, aqui e lá fora, a sair de seu mundinho e a entrar de vez na cultura pop e nas opiniões de quem quer que seja —o que também acabou por atrair novos consumidores.

Este efeito de formação de público é algo benéfico, acrescenta Borges. Ele conta que, quando começou, eram “umas cinco pessoas no laboratório de tingimento, de estamparia” que definiam as roupas, numa “pirâmide muito fechada”, mas agora o cenário é totalmente outro, um em que a moda está mais aberta para todos e vai muito além dos três ou quatro países da Europa que costumam ditar as regras.

Prova disso são as marcas jovens e ainda de público restrito que desfilam na São Paulo Fashion Week, a exemplo de David Lee, Rafael Caetano, Normando e Forca, que vêm renovando a moda brasileira enquanto falam diretamente com seus consumidores. “Isso é um efeito muito positivo da internet. As pessoas começam a entender quem é que gosta da marca”, diz Borges. “Começam a entender onde tem que atuar melhor para aumentar suas comunidades.”

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