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A lição do México para o mundo na COP30 – 12/10/2025 – Bianca Santana

Na COP30, em Belém, recomendo prestar atenção em Claudia Sheinbaum, a presidente do México.

Ambientalista, bacharel em física, mestra e doutora em engenharia ambiental, ela participou do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU na área de energia e indústria, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007, e fundamenta ainda hoje muitos dos debates e acordos internacionais sobre o clima.

Primeira mulher a governar o país, Sheinbaum propôs inserir na Constituição a proibição ao milho transgênico e o reconhecimento do milho nativo como elemento essencial da identidade nacional.

A emenda constitucional foi aprovada em março deste ano, interrompendo as investidas dos Estados Unidos de espalharem suas sementes de milho geneticamente modificadas também pelo México.

Há evidências arqueológicas de que há 7 mil anos o milho já era plantado na Mesoamérica, milhares de anos antes da existência de fronteiras nacionais. A variedade de sementes sobreviveu à monocultura da colonização espanhola e também ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte que, na década de 1990, abriu as fronteiras mexicanas às importações de milho americano, em grande parte transgênico e subsidiado.

Apesar das mais de 60 variedades de sementes de milho terem sobrevivido ao neocolonialismo americano, corporações passaram a controlar parte significativa das sementes e insumos, prejudicando agricultores mexicanos e aumentando o risco de contaminação das sementes nativas.

Priorizar práticas agroecológicas e garantir o cultivo de milho livre de modificações genéticas é mais do que um enfrentamento comercial aos EUA. Além de proteger a soberania e a biodiversidade, a defesa do milho, diante das emergências climáticas, é a defesa da vida.

Vida das plantas, animais e também das pessoas. O direito de cada povo decidir o que planta e o que come é o princípio da soberania alimentar, uma agenda profundamente latino-americana de enfrentamento à fome a partir da diversidade e da resistência à homogeneização imposta pelo mercado global.

No último 29 de setembro, dia nacional do milho no México, fiquei emocionada com o vídeo publicado nas redes sociais de Sheinbaum. Diante de espigas de milho de diferentes cores, tamanhos e formas, repetiu o lema “Sin maíz no hay país” (sem milho não há país), reafirmando a importância de proteger a herança dos povos originários. Que lição para o mundo. Que lição para o Brasil.

Leio, nas ações e posturas de Sheinbaum, uma proposta de um reposicionamento da América Latina no debate climático internacional.

Espero que, em Belém, a presidenta fale do milho e, assim, traga para o centro da COP as soluções climáticas que estão na sabedoria milenar dos povos que cuidam da terra.

Em um mundo colonizado por monoculturas e patentes, o México reivindica o direito de plantar e colher a diversidade originária. E o faz com enorme força simbólica por meio da presidente Sheinbaum, mulher, feminista e cientista.

A crise climática não se resolverá apenas com acordos multilaterais, mas também com o reconhecimento e a multiplicação de práticas ancestrais de soluções ambientais dos povos da floresta, indígenas, quilombolas, negras e ribeirinhas.


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