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Irã atrai estrangeiros transgêneros para cirurgias – 11/10/2025 – Mundo

Por 40 anos, o Irã fez mais cirurgias de transição de gênero do que muitas outras nações, em grande parte como resultado da pressão sobre cidadãos homossexuais e pessoas que se identificam como gêneros não-conformes para que fossem submetidos a operações indesejadas ou, caso contrário, arriscassem a pena de morte.

Agora, diante de uma economia paralisada devido a sanções, a República Islâmica está promovendo sua expertise para um público global, esperando atrair estrangeiros transgêneros com a promessa de cirurgias baratas combinadas com estadias em hotéis de luxo e passeios turísticos.

Desesperado por investimento estrangeiro, o regime teocrático do Irã estabeleceu a meta de gerar mais de US$ 7 bilhões com turismo médico por ano, de acordo com a mídia estatal iraniana. O valor é cerca de sete vezes mais do que arrecadou no ano passado. Esse objetivo resultou na proliferação de empresas de turismo médico, que oferecem não apenas rinoplastias e transplantes capilares, mas também vaginoplastias, mastectomias e construções de pênis através de sites em inglês sofisticados.

“Cuidamos de tudo do início ao fim, fornecendo os melhores serviços médicos para garantir uma experiência sem estresse”, disse Farideh Najafi, gerente de duas empresas de turismo médico, MabnaTrip e MedPalTrip. “Isso inclui reservas de hotéis, hospitais, transporte e muito mais.”

O Irã é um dos poucos lugares muçulmano no mundo que permite que pessoas transgênero busquem cuidados de afirmação de gênero, e até os subsidia. Para muitos estrangeiros que viajam ao Irã para cirurgia de transição, e de fato para muitos iranianos transgêneros, essas operações podem parecer salvadoras. Mas a reputação do país como pioneiro na área esconde a história abusiva das operações e a realidade sombria para a maioria das pessoas LGBTQIA+ lá.

No Irã, homens gays e lésbicas podem ser punidos com flagelação pública e pena de morte. Como resultado, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas descobriu que muitos iranianos gays e lésbicas que não são trans são “pressionados a se submeter à cirurgia de redesignação de gênero sem seu consentimento”.

Ainda assim, os preços reduzidos do país estão atraindo indivíduos transgêneros de lugares tão distantes quanto Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e Europa, de acordo com operadores de turismo médico e cirurgiões. Muitos mais pacientes, dizem eles, vêm de países vizinhos, caso do Iraque, onde tais tratamentos são proibidos.

“Nos EUA o custo da cirurgia é de cerca de US$ 45 mil, e na Tailândia, é de aproximadamente US$ 30 mil”, de acordo com o site de um operador, IranMedTour. “No entanto, o custo da cirurgia de confirmação de gênero no Irã é menor, com preços inferiores a US$ 12 mil.” Outras empresas anunciam procedimentos em hospitais governamentais por apenas US$ 4.500.

Sam, 32, um homem trans de Orange County, na Califórnia, está atualmente em Teerã, a capital iraniana, para fazer um tipo de cirurgia de construção de pênis. Solicitando anonimato para discutir o procedimento médico, ele disse que foi atraído ao Irã porque acreditava que os médicos lá eram “mais confiantes” do que os dos EUA.

“O objetivo dessas excursões médicas é provavelmente retratar o Irã como um paraíso para pessoas trans, o que não é”, disse Saman Arastu, que é ator e homem iraniano transgênero. “Na minha opinião, isso não passa de um espetáculo. A situação para pessoas trans é terrível.”

Embora os números precisos sejam desconhecidos, um relatório do Ministério do Interior britânico de 2022 descobriu que aproximadamente 4.000 pessoas se submeteram à cirurgia de transição anualmente no Irã, número maior do que os totais anuais combinados no Reino Unido e na França. Especialistas dizem que a grande maioria dos pacientes vem de dentro do Irã.

A experiência do país com cirurgia de transição deriva de uma fatwa (decreto religioso muçulmano) emitida na década de 1980 pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, o líder supremo fundador da República Islâmica, que declarou que indivíduos transgêneros poderiam obter reconhecimento legal do gênero com o qual se identificavam, mas apenas com a condição de que se submetessem à cirurgia de transição.

Essa política inverte o que muitos no Ocidente esperam do Irã, onde as normas de gênero são tão estritamente aplicadas que até recentemente as mulheres eram punidas por não usar hijabs em público.

Mas iranianos transgêneros e especialistas dizem que o abraço do regime à cirurgia de forma alguma se correlaciona com a defesa das pessoas trans.

Iranianos que não aderem às normas tradicionais de masculinidade e feminilidade —incluindo pessoas trans que não desejam cirurgia— estão sujeitos à violência, extorsão ou são pressionados a serem submetidos a operações.

Raha Ajoudani, 20, uma mulher trans e ativista, fez a jornada oposta que muitos turistas estrangeiros estão fazendo. Ela fugiu para a Alemanha em 2024 para evitar uma cirurgia de transição forçada e escapar da perseguição estatal por seu ativismo. Ajoudani disse que foi detida duas vezes pelas autoridades em 2022, depois que um ex-namorado colaborou com o Ministério da Inteligência iraniano para facilitar sua prisão. Sua família, acrescentou, é rotineiramente perseguida para que ela pare com seu ativismo.

“Eu nunca quis me submeter à cirurgia de redesignação de gênero”, disse Ajoudani. “Eu me defini fora desse binário. Não queria viver de acordo com a definição governamental de expectativas culturais de ser mulher ou homem, nem me submeti à fatwa de Khomeini.”

A cirurgia não é garantia de aceitação ou segurança. Pessoas transgênero no Irã enfrentam assassinatos e outras formas de violência e assédio.

As empresas de turismo incluem linguagem para tranquilizar os estrangeiros sobre esses temores em seus materiais publicitários.

Najafi, a gerente de turismo, admitiu que alguns estrangeiros temiam problemas com as autoridades ou com os locais, mas disse que os pacientes que viajavam com sua empresa “nunca tiveram problemas de segurança”.

Cirurgias de transição são operações complexas com um histórico questionável de segurança no Irã. Alguns ativistas compararam as clínicas de gênero do país a açougues.

Saghi Ghahraman, que liderou a Organização Queer Iraniana, disse que, embora acreditasse que os padrões de tratamento haviam melhorado, a mudança teve um custo, já que muitas pessoas gays se sentiram forçadas a fazer operações que eram como experimentos.

Um relatório da ONU sobre cirurgias de transição no Irã de 2015 descreveu procedimentos mal executados que levaram a complicações como “sangramento e infecção graves, cicatrizes, dor crônica e órgãos sexuais com formato ou localização anormais”.

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