O Festival do Rio termina neste domingo após uma seleção parruda de mais de 300 filmes exibidos em cinemas da capital fluminense ao longo de 12 dias.
Um dos destaques foi “O Agente Secreto”, novo filme do recifense Kleber Mendonça Filho, escolhido pelo Brasil para disputar uma vaga entre os indicados ao Oscar do ano que vem. Elogiado e premiado em festivais mundo afora, o filme teve algumas de suas primeiras exibições nacionais no Rio de Janeiro na semana passada.
O ator Wagner Moura, que protagoniza a trama, foi ao Cine Odeon, cinema histórico da cidade, participar de uma sessão entupida de gente, uma mistura de público geral e famosos, como Caetano Veloso e Iza. No evento, Moura falou da trajetória que o filme tem trilhado em eventos internacionais, e relembrou suas histórias pessoais com o Festival do Rio.
Moura foi celebrado por Juliette Binoche, uma das maiores atrizes da França, que veio ao evento lançar seu primeiro trabalho como diretora, o documentário “In-I In Motion”. Ela presidiu o júri do Festival de Cannes deste ano, que premiou “O Agente Secreto” com os troféus de direção, para Mendonça Filho, e de ator, dado a Moura. À Folha, Binoche disse que desejava ter entregue um prêmio maior para o filme, mas foi superada por outra escolha do júri.
Como Moura, a francesa também foi ao Cine Odeon para uma sessão do seu filme. “In-I In Motion” relembra a ocasião em que Binoche se juntou ao coreógrafo Akram Khan para aprender uma performance de dança e apresentá-la em turnê. O filme une cenas dos ensaios, intensos, e das apresentações.
Outro convidado internacional do Festival do Rio foi o executivo Bill Kramer, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, entidade que organiza o Oscar. À reportagem, ele elogiou o cinema nacional e disse que “Ainda Estou Aqui” e Fernanda Torres ganharam tração na premiação graças ao barulho feito pelos brasileiros nas redes sociais. Ele chamou Torres de atriz excepcional e adorável.
O Festival do Rio deste ano trouxe filmes que devem chegar fortes na corrida do Oscar do ano que vem, como “A Voz de Hind Rajab”, filme elogiadíssimo no Festival de Veneza. A obra conta a história real de uma criança de seis anos que ficou horas esperando resgate em meio a um tiroteio na Faixa de Gaza —voluntários palestinos tentavam acalmá-la por telefone enquanto a ajuda era enviada. A exibição do longa no Cine Odeon terminou em silêncio, exceto pelo barulho de choro.
Outro filme que causou um desconforto foi “A Cronologia da Água”, que marca a estreia na direção da atriz Kristen Stewart. A trama mostra uma jovem tentando superar os traumas de ter sido violentada sexualmente pelo pai na infância. De alto teor dramático, o filme vem sendo elogiado pela performance da atriz principal, a britânica Imogen Poots, que também deve tentar receber indicações na temporada de premiações.
A sessão de “Valor Sentimental”, por outro lado, terminou com a energia mais para cima. Lançamento do cineasta norueguês Joachim Trier, que fez “A Pior Pessoa do Mundo”, a obra mostra o drama de uma família que tenta consertar seus laços quebrados no passado. Ainda que dramático, o filme fez o público do Odeon dar risada em mais uma sessão lotada. A obra está entre as principais apostas para o Oscar de filme internacional.
A vivência LGBTQIA+ também guiou essa 27ª edição do Festival do Rio. A começar por “O Olhar Misterioso do Flamingo”, filme chileno que disputa também uma vaga entre os indicados ao Oscar, primeiro longa-metragem do diretor Diego Céspedes, de 30 anos, que veio ao Brasil para divulgar o trabalho. Na história, um grupo de travestis se fortalece em uma comunidade enquanto corre o boato de que uma doença misteriosa é transmitida pelo olhar de homens gays.
Mais leve é “A Sapatona Galáctica”, animação que mostra um planeta dominado por lésbicas. Arrasada após um término com a ex-namorada, a protagonista decide ir salvar uma pessoa que foi sequestrada pelos vilões, extraterrestres brancos, machos e heterossexuais.
O Festival do Rio chega ao fim, neste domingo, com uma sessão única do novo filme da cineasta chinesa Chloé Zhao, “Hamnet: A Vida Antes de Hamlet”, outro forte candidato ao Oscar.
O jornalista viajou a convite do evento