10.7 C
Nova Iorque
sexta-feira, outubro 10, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Série de Ed Gein critica Hollywood ao retratar assassino – 09/10/2025 – Ilustrada

Depois de assassinar o irmão e desenterrar o corpo putrefato de uma mulher no cemitério, Ed Gein alucina com milhares de prisioneiros dos campos de concentração nazistas. Eles o perseguem para puni-lo pelos seus crimes obscenos. Gein começa a chorar, e o delírio só acaba quando ele ouve a voz da mãe morta, que o repreende.

A cena da nova série de “Monstros”, produções de Ryan Murphy dedicadas a dissecar a história de assassinos notórios na Netflix, é elucidativa. O protagonista da vez é Ed Gein, violador de cadáveres e serial killer que chocou o país nos anos 1950. Perturbado por uma infância traumática ao lado da mãe, uma religiosa fervorosa e arbitrária, ele desenvolveu esquizofrenia após ver fotos de cadáveres de vítimas do Holocausto.

Mais do que reproduzir os crimes de Gein, a série parece preocupada em mostrar como sua obsessão mórbida foi produto, em parte, de uma ascendente cultura de massas que celebrava heróis coloniais e violentos. Isolado por uma sociedade hostil com pessoas neurodivergentes, o jovem Gein cresceu lendo quadrinhos de exploradores brancos que colecionavam crânios de nativos ou, ainda, gibis sobre Ilse Koch, oficial nazista que arrancava a pele de prisioneiros para fazer abajures e cadeiras.

Por trágica ironia, a história de Gein serviu para abastecer a cultura pop nas décadas seguintes. Ele inspirou “Psicose”, marco do cinema de suspense de Albert Hitchcock e, depois, outras grandes produções hollywoodianas como “O Silêncio dos Inocentes” e “O Massacre da Serra Elétrica”.

“Ryan [Murphy] questiona quem é o monstro. Claro, Ed Gein, que fez essas atrocidades. Mas é também Hitchcock o monstro, que sensacionalizou por entretenimento a vida de um menino abusado e que nunca teve um diagnóstico preciso sobre sua condição psicológica? Ou somos nós os monstros, como público dessa série, ao perpetuamos o ciclo?”, questiona o ator Charlie Hunnam, que interpreta Gein, em entrevista.

Na série, cenas do assassino vestindo roupas femininas, se masturbando e dilacerando corpos se revezam com uma linha do tempo futura, em que cineastas reinterpretam os crimes em seus filmes. É o caso do próprio Hitchcock, vivido por Tom Hollander.

Conhecido como o mestre do suspense, o diretor inglês foi acusado de ter um comportamento abusivo no set de filmagem. Um dos relatos foi da atriz Tippi Hedren, e incluia assédio sexual, manipulação e ameaças. Em “Monstros”, Hitchcock é obcecado com o caso de Gein, e pouco se importa com o desconforto de Anthony Perkins, ator que viveu o assassino em “Psicose“, interpretado na série por Joey Pollari.

Em dado momento, Perkins diz que a história de Gein não deveria ser contada. A dúvida também assombrou Hunnam, que vive o assassino 64 anos depois de “Psicose”. Mas, para o ator, é importante criticar o fascínio pelo mórbido. “Falar sobre isso tem a função de fazer refletir sobre o passado”, diz. “Todos tememos o que há nas sombras, que não pode acontecer. A exposição a isso é útil.”

A análise proposta pela série soa quase como uma autocrítica. Isso porque, desde que foi lançada em 2022, “Monstros” atiçou opiniões opostas. Enquanto fãs de true crime defendem a série, outros apontam para a espetacularização de crimes reais.

O auge desse debate aconteceu após o lançamento da primeira temporada, em 2022, que narrou, com cenários estéticos e ao som de hits como “Please Don’t Go”, como Jeffrey Dahmer assassinou e canibalizou 15 garotos nos anos 1970 e 1980.

Na época, a série se tornou a segunda mais assistida da história da Netflix —hoje ela ocupa o quarto lugar, atrás de “Wandinha“, “Adolescência” e “Stranger Things”. A trama foi acusada de romantizar crimes que até hoje causam sofrimento às famílias das vítimas. A mãe de um dos garotos assassinados por Dahmer chegou a dizer que a série da Netflix causava gatilhos.

“Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais”, segundo capítulo da produção lançada no ano passado, também causou rebuliço. A série ilustra como os irmãos que assassinaram os pais nos anos 1980 foram vítimas de abusos sexuais e físicos constantes de suas vítimas. A narrativa fez dos Menendez, presos até hoje, mártires de abuso sexual entre os jovens no TikTok, e colaborou com a versão da defesa dos irmãos na justiça.

“Monstro: A História de Ed Gein”, ainda que não tenha despertado a comoção das antecessoras, não perde em interesse. Basta dizer que está no topo mundial de séries mais vistas da Netflix desde que foi lançada, no dia 3 de outubro.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles