A vereadora Mariana Conti (PSOL), de Campinas, afirma que Israel praticou tortura psicológica contra os ativistas da flotilha Global Sumud durante os cinco dias em que ficaram encarcerados no país. Segundo ela, o grupo teve acesso limitado à comida, água e remédios controlados, foi submetido a privação de sono, não podia entrar em contato com advogados e ficou sem os pertences pessoais.
“Nós fomos sequestrados pelo Estado de Israel em águas internacionais e levados contra a nossa vontade. Desde então fomos encarcerados e submetidos a várias formas de violência psicológica”, disse Conti em entrevista à coluna nesta terça (7), por um telefone emprestado. Ela e outros ativistas jogaram ao mar seus próprios celulares durante interceptação da flotilha como medida de segurança.
Ela estava abrigada na embaixada brasileira na Jordânia, junto a 12 brasileiros da flotilha que foram libertados nesta manhã e deixaram Israel rumo à Jordânia, onde recebem apoio da embaixada brasileira em Amã. O Itamaraty confirmou a libertação e divulgou nota em que “conclama a comunidade internacional a exigir de Israel a cessação do bloqueio a Gaza, por constituir grave violação ao direito internacional humanitário”.
A vereadora relatou que os prisioneiros eram deixados sob o sol, acordados durante a madrugada e alimentados com comida estragada. “Eles nos acordavam no meio da noite com gritos e luzes para impedir o sono. Também éramos revistados e trocados de cela constantemente. Ficávamos em ônibus [durante locomoções] sob calor intenso, com ar quente ligado, e não sabíamos que horas eram. Foi uma tentativa de nos quebrar psiquicamente”, afirmou.
Conti também disse que pessoas com problemas de saúde foram privadas de medicamentos controlados. “Uma das companheiras teve febre e precisou de antibióticos, que foram negados. Outra, com problema cardíaco, passou mal pela falta de remédio. Tivemos de fazer barulho até que o tratamento fosse liberado”, contou.
Procurada pela coluna, a embaixada israelense não respondeu até o momento.
Ela acrescentou que, apesar das condições, que descreve como “violência sistemática”, o grupo se manteve unido. “Fomos 44 países representados, e saímos fortalecidos, com muito orgulho do que fizemos. A missão mostrou que há generosidade no mundo e que não se pode ficar calado diante do extermínio do povo palestino, que passa condições muito piores do que enfrentamos”, disse.
A vereadora afirmou ainda que a flotilha, que tinha como objetivo levar ajuda humanitária a Gaza, só existe porque “os governos falham”. “Israel impediu que cumpríssemos nossa missão, mas ela teve impacto simbólico enorme —trouxe luz à situação do povo palestino”, declarou.
De volta ao Brasil, ela ainda terá que enfrentar um possível processo de cassação de mandato na Câmara Municipal de Campinas. A representação, apresentada pelo vereador Nelson Hossri (PSD), pede a instauração de uma comissão processante por quebra de decoro parlamentar.
Na denúncia, Hossri afirma que a vereadora se ausentou do país por mais de 30 dias sem justificativa institucional e participou de uma “iniciativa política internacional de caráter provocativo ao Estado de Israel, sob pretexto humanitário”. O documento ainda a acusa de ter feito “uso intenso das redes sociais para autopromoção e retórica hostil a um Estado estrangeiro”, conduta que, segundo o vereador, “compromete a imagem do Legislativo campineiro”.
Mariana diz não se preocupar. “Isso é ridículo. É gente com falta do que fazer. Sei que muitas pessoas acompanharam a missão e que ela foi transparente. Sei que há muita gente do meu lado.”
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