18.4 C
Nova Iorque
terça-feira, outubro 7, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Ninguém se divertiu mais em ‘Vale Tudo’ do que Odete – 06/10/2025 – Ilustrada

A boa notícia é que Odete morreu. Dado o histórico de alterações promovidas em relação à trama original, havia o temor de que Manuela Dias decidisse manter a vilã de “Vale Tudo” viva. Aparentemente, pelo que se viu na noite desta segunda-feira (6), a autora respeitou o desejo de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.

Escrevo “aparentemente” porque, diante do furor iconoclasta que moveu a autora nestes mais de seis meses, ainda temo que Odete reapareça viva, tomando dry martini e sassaricando com um garotão sarado em alguma ilha grega no último capítulo. Vai que…

A “Vale Tudo” original mostrou um Brasil vivendo uma crise socioeconômica e moral de grandes proporções. Enquanto Raquel teimava em se manter em linha reta, defendendo a ideia de que valia a pena ser honesta, Odete se destacou ao mostrar que a ambição da heroína beirava o ridículo. Com seus maus modos, preconceitos, ofensas e vilanias, Odete gerou um desconforto que poucas vezes se viu igual numa novela exibida pela Globo. A personagem entrou para a história.

A nova versão abandonou em grande parte esta tensão entre honestidade e vale tudo para se dar bem, e investiu na representação de um país fantasioso, sem conflito de classes nem falta de grana. A personagem falou muitas barbaridades, mas mudou radicalmente. No final das contas, os únicos lampejos de política no Brasil de “Vale Tudo” aparecem na abertura. A novela foi totalmente despolitizada.

A nova Odete deixou para trás o tom rascante e assustador que marcou para sempre a carreira de Beatriz Segall. Como se tivesse tirado uma capa chique que cobria a personagem, Debora Bloch foi uma vilã que, metaforicamente, bebeu caipirinha e caiu no samba.

A Odete de Debora foi a personagem mais feliz de “Vale Tudo”. Transou praticamente em todos os capítulos com quem ela escolheu. Empoderada, sexy, sacana, esta Odete 2 se divertiu do início ao fim. Não sobrava muito tempo para planejar suas vilanias, o que explica as inúmeras ações mal ajambradas que promoveu.

Não espanta que, que 86% dos espectadores, segundo o Datafolha, tenham dito que gostariam de ver Odete punida, mas apenas 4% queriam a morte da personagem —47% gostariam de vê-la pobre e 35% preferiam que ela fosse presa.


Em 1988, quando o Datafolha fez esta mesma pergunta aos paulistanos, a morte da personagem foi desejada por 38% dos entrevistados, enquanto 20% queriam que ela fosse para a prisão e 14% que ficasse na miséria.

“Eu também fiquei apaixonada pela Odete. Então, realmente, deu dó [matar a personagem]”, disse Manuela Dias ao “Fantástico”. “Odete é altamente viciante”, disse a própria personagem, sem nenhuma modéstia, no bloco que antecedeu sua morte.

Desta vez, pelo menos, o capítulo não abusou da paciência do espectador com a inserção de ações comerciais em número exagerado e mal colocadas. Essa é uma reclamação justa – faltou talento e cuidado em muitas publicidades. Mas ainda há de nascer o autor com o poder de vetar a inclusão de um anúncio de sabão em pó numa cena de doença.

Vários personagens acordaram com o desejo de matar Odete no capítulo desta segunda-feira. Maria de Fátima comprou uma arma e aprendeu a atirar em dois minutos. Marco Aurélio se mudou para o Copacabana Palace. Olavo revelou ser um “fuzileiro sniper”. Celina inventou uma desculpa para visitar a irmã. César arrumou um revólver, sabe-se lá como. Heleninha também deu as caras no hotel. Quem matou Odete Roitman? A esta altura, não importa tanto.

Não considero que Manuela Dias tenha traído Gilberto Braga com esta versão. Num momento em que a Globo atira em todas as direções, investindo recursos até na criação de uma novela com episódios de dois minutos para exibição em redes sociais, este remake parece adequado aos dias de hoje: cenas curtas, diálogos simplórios, tramas superficiais e menos preocupação com o acabamento.

No ano em que completa 60 anos, a Globo sonhava exibir números robustos de audiência e publicidade. Os dados do Ibope não são empolgantes, mas não deixaram a emissora passar vergonha. Sobre o sucesso comercial, não há o que questionar.

A realidade é que as novelas nesta terceira década do século 21 são um produto completamente diferente do que eram nos anos 1980 e 1990. Em vez de reclamar com Manuela Dias, sugiro falar com a direção da emissora.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles