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Maria Bethânia faz show em São Paulo com voz vigorosa – 04/10/2025 – Ilustrada

Maria Bethânia chega aos 79 anos e não se cansa da ousadia. Sua nova turnê foi montada para comemorar seis décadas de carreira, numa contagem iniciada em fevereiro de 1965, no show “Opinião”, no Rio de Janeiro.

Foi uma noite de surpresas no sábado (4), quando ela abriu no Tokio Marine Hall uma sequência de oito shows em São Paulo, em todos os finais de semana do mês.

Estão fora do repertório “Sonho Meu”, “Explode Coração”, “Brincar de Viver” e “Grito de Alerta”, para ficar apenas entre os sucessos que até agora figuravam incontornáveis numa celebração de sua trajetória. Outro hino de Bethânia, “Olhos nos Olhos”, foi cantada apenas uma vez nas seis apresentações cariocas que abriram a turnê no mês passado. Mas, no primeiro show paulistano, ela cantou, numa versão enxuta, que o público aplaudiu de pé.

Mas é impossível dizer que alguém tenha ficado decepcionado com as ausências. Afinal, são mais de 30 canções, e a seleção inclui músicas de 15 álbuns de sua carreira. Todas cantadas com vigor pela voz mais poderosa da MPB. Bethânia parece contente no palco, solta. Pessoas próximas dizem que a turnê com o irmão Caetano Veloso em grandes estádios a fez encarar com naturalidade os excessos da plateia, que insiste em berrar exaltações à estrela mesmo em canções mais intimistas.

Entrando no palco Bethânia emenda “Iansã”, parceria de Caetano e Gil de 1972, “Sete Mil Vezes”, outra do irmão, de 1981, e “Canções e Momentos”, que Milton Nascimento e Fernando Brant fizeram em 1986. De certa forma, a trinca já indica o que será o show: músicas dos maiores compositores da MPB, escolhidas entre várias fases de sua carreira. E não necessariamente sucessos para o público cantar junto.

Mas quem está na plateia querendo soltar a voz encontra alguns momentos para um ótimo karaokê. Desde a pegada roqueira de Caetano em “Podres Poderes” à romântica “Olha”, da safra de 1975 de Roberto e Erasmo, e “Samba do Grande Amor”, momento impecável de Chico Buarque em 1983.

Outra inclusão para satisfazer os fãs sôfregos por hits é “Fé Cega, Faca Amolada”, mais uma de Milton Nascimento e Fernando Brant, de 1974. O público mais maduro pode se lembrar de “Resposta”, clássico de Maysa, de 1956.

Entre covers, uma homenagem a Angela Ro Ro, morta há um mês. Bethânia escolheu duas canções muito intensas da amiga, “Mares da Espanha” e “Gota de Sangue”, ambas de 1979, cantadas em sequência. Ela faz outro tributo ao cantar “Sussuarana”, cantiga de 1928, de Heckel Tavares e Luiz Peixoto. Há 22 anos, Bethânia cantou essa música no show “Brasileirinho” ao lado de Nana Caymmi, que morreu em maio.

Como sempre, Bethânia abre espaço para declamações entre as canções. Desta vez são cinco textos: “A Queda do Céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert; “Água Viva”, de Clarice Lispector; “Lugar”, de Herberto Helder; “A Voz de Nana”, de Eucanaã Ferraz e “Eu Não Quero Apenas Ter Visitado Este Mundo”, de Dora Fischer Smith.

No extenso repertório, que cobre muitas canções de afrobrasilidade, cinco são inéditas: “Balangandã”, de Paulo Dáflin e Roque Ferreira, “Eu Mais Ela”, de Chico Cesar, “Se Não Te Vejo”, do português Pedro Abrunhosa, “Vera Cruz”, samba de Xande Pilares e Paulo César Feital, e “Palavras de Rita”, que emocionou muito a plateia, por claros motivos.

Trata-se de um poema de Rita Lee, musicado por Roberto de Carvalho. Inserida na parte final do show, quando o púbico já está entregue à celebração diante de Bethânia, a canção provoca lágrimas na plateia. Ninguém fica impassível diante de versos como “Das mortes que vivi, o além / Dos vícios que virei, refém / Dos bichos que sou, felina / Na velha que estou, menina”.

Ainda sobre essas novas aquisições ao repertório, vale dizer que a música de Pedro Abrunhosa é, teoricamente, um fado, mas o que se escuta no palco é uma canção leve, solar, que abandona a rigidez tristonha do gênero português.

E “Vera Cruz”, de Xande e Feital, conquista a plateia nas primeiras batidas. Um samba arrasa-quarteirão, que pode ir aos grandes estádios. Fala da importância de se defender a soberania nacional, sem interferência de “chefes de outra pátria”. O público enlouqueceu. Na plateia superior, entusiasmado, estava o presidente Lula, saudado pelo público com gritos de “Sem anistia”. No final, Bethânia agradeceu sua presença.

O show tem algumas inserções esperadas, como “Rosa dos Ventos” (1970), de Chico Buarque, e surpresas agradáveis, caso de “O Lado Quente do Ser” (1980), de Marina Lima. Para o grande final, “Reconvexo”, que já tinha garantido encerramentos empolgantes na turnê com Caetano.

Bethânia vai cumprir oito shows em São Paulo, todos praticamente com ingressos esgotados. A turnê passa por outras cidades e a expectativa é de que ela vá até meados do ano que vem, para incluir a comemoração dos 80 anos da cantora, em 18 de junho.

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