Com a indignação do costume, verifico que o universo volta a conspirar para que eu me sinta velho. É um fenômeno recorrente: o mundo esfrega-me na cara que as coisas se limitaram a não mudar desde que eu nasci.
Elas mudaram de forma ridiculamente radical. O que faz com que eu não seja apenas de outro tempo: na verdade, eu sou de outro planeta.
O mais recente desaforo consiste no seguinte: ao que parece, a internet está cheia de jovens gurus de um novo conceito de masculinidade, que estipula que ser homem implica rejeitar a masturbação e praticar a abstinência sexual total, para reter a maior quantidade possível de sêmen no organismo.
Ora, nenhuma destas teorias de 2025 é nova para mim, uma vez que em 1980 frequentei um colégio de irmãs vicentinas que se dedicaram a receitar-me um tratamento rigorosamente igual.
Que os machões do século 21 pensem exatamente o mesmo que as freiras do século 20 é uma bizarria que só pode ter sido concebida para me amesquinhar. Não há dúvida da coincidência ideológica das freiras de ontem e dos machões de hoje. É o mesmo horror à masturbação, a mesma aversão ao sexo, a mesma desconfiança de que a atividade sexual é, de algum modo, prejudicial à saúde.
Eu estimava as freiras que me educaram, até porque tínhamos muito em comum: estávamos todos obcecados com a minha vida sexual. Elas diziam que o depravado era eu, por só pensar naquilo.
Eu achava que quem exibia mais sinais de depravação eram elas. Sempre considerei que a perversão sexual mais aberrante de todas era a abstinência.
Mas agora aparecem estes jovens para os quais a estratégia ideal para ser um homem pleno e saudável é evitar ao máximo o contato com o sexo oposto, que, aliás, desprezam —e, por eles, não tenho qualquer estima.
À repulsa em relação ao sexo juntam aquele ódio às meninas que é típico dos rapazes quando têm cerca de sete anos. Bem sei que agora se diz que os 50 são os novos 40, e que os 40 são os novos 30. Mas que os 30 sejam os novos sete parece-me um pouco ridículo.
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