O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou novo decreto em que trata qualquer ataque ao Qatar como uma ameaça à paz e segurança dos EUA. A medida é publicada semanas após Israel, de quem Washington é o principal aliado, realizar bombardeio em Doha que tinha como alvo integrantes do Hamas.
O documento, cuja data oficial de publicação é 29 de setembro, afirma que os EUA poderão usar inclusive meios militares para “defender os interesses dos EUA e do Qatar”.
A data oficial do documento é a mesma em que Trump recebeu o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na Casa Branca e apresentou seu plano para encerrar a guerra na Faixa de Gaza. O Qatar tem sido um mediador importante nas negociações com o grupo terrorista, cujas lideranças políticas vivem em Doha.
Doha recebeu com satisfação o decreto de Trump, descrevendo-o como um marco no fortalecimento dos laços de defesa e cooperação bilateral entre os dois países, disse seu ministério das Relações Exteriores.
O ataque israelense à capital qatari, no dia 9 de setembro, lançado com pouco aviso prévio ao governo Trump, causou consternação em Washington, dada a estreita relação dos EUA com o Qatar —que abriga a maior base militar americana no Oriente Médio.
Trump, na ocasião, repetiu o que a porta-voz da Casa Branca havia dito antes: os EUA foram avisados previamente do ataque. O republicano teria pedido que seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, alertasse as autoridades qataris. O país do Oriente Médio, no entanto, nega que tenha sido avisado com antecedência —o premiê disse que foi alertado dez minutos depois do início do ataque.
Ainda segundo Trump, a decisão do bombardeio contra o Qatar foi tomada exclusivamente por Netanyahu, sem sua interferência. Mesmo assim, o americano disse algo semelhante ao que o israelense havia dito: “este incidente infeliz poderia servir como uma oportunidade para a paz”.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, visitou Doha logo após o ataque israelense e disse na ocasião que um acordo de cooperação de defesa aprimorado estava sendo finalizado com o Qatar.
“Os EUA considerarão qualquer ataque armado ao território, soberania ou infraestrutura crítica do Estado do Qatar como uma ameaça à paz e segurança dos Estados Unidos”, diz o decreto.
“No caso de tal ataque, os EUA tomarão todas as medidas legais e apropriadas —incluindo diplomáticas, econômicas e, se necessário, militares— para defender os interesses dos Estados Unidos e do Estado do Qatar e para restaurar a paz e a estabilidade.”
O documento afirma ainda que altos funcionários de defesa e inteligência dos EUA manterão planejamento de contingência com Doha para garantir uma resposta rápida a quaisquer ataques.
A vizinha Arábia Saudita há muito busca garantias semelhantes como parte dos esforços de Washington para normalizar as relações entre Riad e Israel, mas tal acordo ainda não se materializou. No mês passado, a Arábia Saudita assinou um pacto de defesa mútua com o Paquistão, o que na prática dá acesso a Riad às armas nucleares possuídas por Islamabad.
Embora o presidente americano possa negociar tratados de defesa coletiva —como o que criou a Otan, a aliança militar ocidental—, é necessária a confirmação do Senado para que acordos do tipo se tornem lei. Um decreto presidencial pode ser revogado por qualquer presidente dos EUA no futuro, e não está claro qual situação obrigaria Washington a cumprir o trato.
A ordem de Trump vai além de uma ordem de 2022 de seu antecessor Joe Biden que designou o Qatar como um importante aliado fora da Otan, permitindo maior cooperação militar, mas ficando aquém de prometer defender o Qatar caso o país árabe seja atacado.
Não houve resposta militar dos EUA quando o Qatar foi atacado pelo Irã em junho, após o bombardeio americano a instalações nucleares iranianas.
O governo Trump, em maio, aceitou oficialmente um luxuoso Boeing 747 como presente do Qatar. As Forças Armadas trabalham para prepará-lo para uso como o novo Air Force One, o avião presidencial. Trump descartou preocupações legais e éticas sobre o recebimento da aeronave.