17.7 C
Nova Iorque
quinta-feira, outubro 2, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

PF: Andrei Rodrigues critica ‘tresloucados brasileiros’ – 02/10/2025 – Poder

Para Andrei Rodrigues, 55, que desde janeiro de 2023 exerce o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, grande parte do êxito da investigação sobre os atos golpistas —que resultou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus em setembro— deveu-se ao uso de ferramentas digitais.

Citado como um dos possíveis alvos futuros de restrição de vistos pelo governo Donald Trump, ele diz, em entrevista à Folha, que o momento de tentativa de interferências no Brasil “há de passar” e que “tresloucados brasileiros” no exterior não intimidarão a PF.

Andrei está em Lisboa para participar, nesta sexta-feira (3), do 2º Fórum Futuro da Tributação —onde falará, entre outras coisas, sobre o uso da tecnologia na atividade policial. O diretor da PF irá também encontrar alguns de seus colegas nas forças policiais portuguesas.

Ele falou com a reportagem na sede do Fibe (Fórum de Integração Brasil-Europa), promotor do evento.

A Polícia Federal foi responsável por investigar os atos golpistas que culminaram na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tem medo de uma represália por parte dos Estados Unidos, como a sofrida por Alexandre de Moraes com a decretação da Lei Magnitsky?

Quando se cumpre a missão constitucional e legal com clareza, com segurança e com firmeza, a gente sabe que está fazendo o que é correto. Então, esse é um momento que há de passar, de um outro país achar que pode intervir em questões internas do Brasil. Ou de tresloucados brasileiros que viajam para o exterior acreditando que irão ameaçar ou intimidar e que com isso irão fazer com que a gente deixe de cumprir nosso papel. Então, pelo contrário, acho que quanto mais se tem uma reação dessa natureza, é mais energia que a gente tem que pôr para enfrentar o crime organizado.

Parte de sua fala aqui em Lisboa será sobre o uso de tecnologia na atividade policial. Onde a tecnologia foi utilizada na investigação dos atos golpistas?

O volume de dados dessa operação foi de vários terabytes, de extração de equipamentos celulares, de notebooks que apreendemos, além de documentos que são todos digitalizados e transferidos para dentro dos nossos sistemas. No 8 de Janeiro utilizamos muitas questões de perícia, de identificação humana, coleta de vestígios biológicos, que nos permitiram identificar várias das pessoas que estavam lá naquele dia. Usamos ciência, usamos tecnologia, mas usamos também o essencial, a nossa alma, o nosso profissional, que tem que ter essa formação, essa preparação.

Poderia dar um exemplo concreto? Em entrevistas anteriores o senhor citou o plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes como uma das principais provas obtidas pela polícia contra Bolsonaro. O plano, no entanto, estava em uma folha impressa…

Esse exemplo que você cita não deixa de ter tecnologia. Depois que alguém imprime algo e leva o documento embora, aquilo aparentemente morre. Mas aí as nossas equipes resgatam dados, os detalhes de login da impressora, detalhes de nomes de arquivos que foram impressos e, depois, em exercício reverso, identificam a origem desses arquivos, o computador de onde saíram aqueles documentos.

Em análises de geolocalização de telefones —tudo com quebra de sigilo autorizada, obviamente, pela Justiça— identificamos que a pessoa cujo login estava na impressora também estava com seu celular dentro do Palácio do Planalto.

A investigação foi criticada por se basear excessivamente na delação do ajudante de ordens Mauro Cid.

Antes da delação vêm as câmeras de segurança, e depois se vê pelas estações de rádio-base que essa pessoa sai do Palácio do Planalto e vai para o Palácio da Alvorada. A isso se soma, sim, a delação premiada do ajudante de ordens, que diz que no dia tal houve uma reunião. E assim se fecha uma prova.

Não basta só a delação, houve todo esse encadeamento que chegou a produzir uma prova. Os quatro ministros do Supremo —e mesmo o ministro Fux, que inclusive condenou dois dos investigados— falaram com muita veemência da qualidade e exuberância das provas. Por isso fico muito feliz ao ver o resultado de um trabalho técnico, sério, científico, de investigação.

Como a tecnologia mudou a investigação dos crimes financeiros?

Se há um mercado que mudou muito foi o do sistema financeiro, com as fintechs e criptomoedas. A polícia tem que reagir de maneira proporcional. No famoso assalto à sede do Banco Central em Fortaleza, em 2005, os assaltantes escavaram um túnel, e foram meses para recuperar cento e tantos milhões naquela oportunidade. Hoje, com um computador e uma boa rede de internet se desvia R$ 1 bilhão com dois ou três cliques.

Isso significa que, além do método, mudou a escala dos crimes?

Vinte anos antes da nossa gestão, foram apreendidos em operações da PF entre R$ 600 milhões e 700 milhões. No ano passado nós apreendemos R$ 6,5 bilhões. Só nessa última operação de lavagem de dinheiro usando fintechs nós bloqueamos R$ 1,5 bilhão em fundos.

Poderia explicar como a tecnologia foi utilizada na Operação Carbono Oculto?

Não posso revelar detalhes, mas acho que um pilar essencial do trabalho de investigação é a cooperação e a integração com outras agências. Nesse caso concreto nós tivemos uma parceria muito intensa com a Receita Federal que, fazendo o seu trabalho de fiscalização, identificou anomalias que foram apresentadas a nós, para que fizéssemos nossa parte de investigação criminal.

Aí identificamos um intrincado esquema patrimonial, com a utilização de fintechs, onde se criam várias camadas de proteção, um fundo que é dono de outro fundo, que é dono de um terceiro fundo, cujos sócios são uma empresa, uma offshore que fica num outro paraíso fiscal, e assim tentam dissimular e perder a titularidade desses valores. Conseguimos destrinchar um pouco essas camadas e identificar as pessoas que estavam por trás desse esquema.

Saber usar bases de dados é hoje uma das principais atribuições de um Policial Federal?

Para você ter uma ideia, a Polícia Federal tem hoje em torno de 49 mil inquéritos policiais. Todos são digitais. A Polícia Federal brasileira não tem mais papel. Nem em processos administrativos nem em processos investigatórios. E isso forma uma grande base de dados. Você pode imaginar a quantidade de depoimentos, de informações, de apreensões de material, extração de dados e equipamentos. E tudo isso está à disposição do nosso investigador —que precisa, então, utilizar a tecnologia, utilizar a sua capacidade, para extrair dali as informações necessárias para tomar o rumo que precisamos.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles