O governo de Israel anunciou nesta quinta-feira (2) que deportará para a Europa os ativistas da flotilha Global Sumud que tentaram furar o bloqueio à Faixa de Gaza e foram interceptados na quarta-feira (1º).
A frota de barcos saiu de Barcelona no dia 31 de agosto com cerca de 45 embarcações e ativistas de mais de 45 países. Entre os nomes públicos que participam da missão e que foram detidos estão a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila.
O Ministério de Relações Exteriores afirmou em um post no X que os ativistas “estão a caminho de Israel com segurança e tranquilidade”, onde serão iniciados os “procedimentos de deportação para a Europa”. A pasta não esclareceu para quais países os detidos serão enviados.
A decisão de barrar a chegada da flotilha abriu uma nova crise diplomática com Tel Aviv, já sob pressão internacional por causa do conflito em Gaza. Diversos governos condenaram a ação das forças militares israelenses, e pessoas foram às ruas protestar países como Espanha, Itália, Tunísia e Colômbia.
O Itamaraty publicou uma nota condenando a interceptação.
“O governo brasileiro deplora a ação militar do governo de Israel, que viola direitos e põe em risco a integridade física de manifestantes em ação pacífica. No contexto dessa operação militar condenável, passa a ser de responsabilidade de Israel a segurança das pessoas detidas”, afirmou o comunicado.
Ao menos mais 12 brasileiros participaram da iniciativa, incluindo Mariana Conti, vereadora de Campinas pelo PSOL; Magno Costa, diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP); Luizianne Lins, deputada federal pelo PT; e a presidente do PSOL-RS, Gabi Tolotti.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, expulsou na quarta-feira a delegação diplomática de Israel em Bogotá, após denunciar que duas colombianas foram “detidas” e exigir sua “liberação imediata”.
A Turquia chamou a ação de Israel de “ato de terrorismo”, e a África do Sul disse que que o país “viola o direito internacional. Já a Espanha, que tem sido um dos membros da União Europeia mais críticos de Tel Aviv na condução do conflito, convocou a encarregada de negócios de Israel em Madri. Ao menos 60 espanhóis integravam a flotilha.
O Ministério de Relações Exteriores israelense confirmou, em um comunicado, que nenhuma embarcação conseguiu furar o bloqueio. “Um último barco desta provocação permanece à distância. Caso se aproxime, também será impedido em sua tentativa de entrar em uma zona ativa de combate e romper o bloqueio”, acrescentou.
Em entrevista à Folha antes de a flotilha partir, o major Rafael Rozenszajn, um dos porta-vozes das Forças Armadas israelenses, indicou que o país não permitiria que os barcos chegassem a Gaza.
As últimas tentativas de abrir um corredor humanitário simbólico por mar também foram frustradas pelas forças militares israelenses. Renderam, porém, repercussão midiática e maior visibilidade para o movimento contra o bloqueio.
Em maio, a embarcação Conscience, que também tentava chegar a Gaza, foi atingida por dois drones em águas internacionais perto da ilha de Malta, às vésperas de levar 80 integrantes e insumos ao território. Na época, funcionários do governo israelense afirmaram que o barco transportava armamentos ao Hamas, o que foi contestado por uma inspeção maltesa.
Em junho, o veleiro Madleen foi interceptado a 180 km da costa de Gaza com 12 tripulantes, incluindo Greta e Ávila. O brasileiro ficou preso por cinco dias, isolado em solitária e sob maus-tratos, segundo sua família. Após intervenção do Itamaraty, foi expulso do país
Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou o protesto de “iate das selfies” e os ativistas de celebridades. Após os tripulantes serem expulsos, publicou na rede social X: “Tchau, tchau. E não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partirem”.