Organizadores da flotilha Global Sumud, iniciativa com cerca de 40 barcos que pretende furar o bloqueio de Israel e levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, afirmaram na tarde desta quarta-feira (1º) que pelo menos 20 barcos identificados se aproximam, à medida que chegam cada vez mais perto do litoral de Gaza.
Não estava claro ainda quem opera essas embarcações. As forças de Israel ainda não haviam se manifestado. Segundo os organizadores, a flotilha deve avistar esses barcos em até meia hora. Eles preveem que navios de Tel Aviv façam uma interceptação por volta das 15h de Brasília.
O brasileiro Thiago Ávila e a ativista sueca Greta Thunberg estão entre os nomes públicos que participam da iniciativa —os dois já haviam sido presos e deportados por Israel em uma das empreitadas anteriores do grupo, em junho.
Ao menos mais 12 brasileiros estão na tripulação da atual missão. Ainda não há informações sobre presos ou feridos. Os barcos carregavam pessoas de centenas de países diferentes, incluindo artistas, ativistas e políticos.
A frota de barcos partiu de Barcelona, na Espanha, no dia 31 de agosto. Ao longo do trajeto, a iniciativa passou por portos como o de Túnis, na Tunísia, onde outras embarcações se juntaram à flotilha.
A operação atual foi batizada de Global Sumud —”sumud” pode ser traduzido como resiliência, em árabe. Os barcos carregavam itens como alimentos não perecíveis, filtros para água, medicamentos, próteses e fórmulas infantis.
A interceptação ocorre em um momento em que o grupo terrorista Hamas analisa o plano do presidente americano Donald Trump para o fim da guerra. O território palestino vive uma crise humanitária sem precedentes, e o governo de Binyamin Netanyahu segue bombardeando e operando na Cidade de Gaza como parte do plano para ocupá-la. Nesta quarta, Tel Aviv anunciou ainda que agora bloqueia palestinos que moram ou se deslocaram ao sul de Gaza de acessarem a porção norte do território.
Em entrevista à Folha antes de a flotilha partir, o major Rafael Rozenszajn, um dos porta-vozes das Forças Armadas israelenses, indicou que o país não permitiria que os barcos chegassem a Gaza. “As Forças Armadas vão estar preparadas para garantir que o bloqueio seja aplicado de uma forma absoluta na Faixa de Gaza“, disse ele na ocasião.
Na madrugada desta quarta (1º), organizadores da flotilha afirmaram que embarcações israelenses teriam se aproximado de alguns de seus barcos e realizado “manobras perigosas e intimidatórias”.
Membros da missão disseram em uma transmissão a jornalistas que duas embarcações de Tel Aviv cercaram dois dos barcos da flotilha, Alma e Sirius. Uma publicação em vídeo na página do Instagram da flotilha mostrava o contorno sombreado do que parecia ser um navio militar com uma torre de canhão próximo aos barcos de ajuda humanitária.
Israel não comentou sobre a suposta aproximação de seus navios, mas acusou os integrantes da flotilha de cumplicidade com o grupo terrorista Hamas.
As tensões aumentaram nos últimos dias após a Global Sumud anunciar ter sido alvo de drones a caminho de Gaza. A Itália e a Espanha mobilizaram barcos do Exército para ajudar em possíveis resgates, mas afirmaram que não irão se envolver militarmente. Essas embarcações europeias acompanhariam o grupo apenas até certo ponto do percurso, por questões de segurança.
Os governos da Itália e da Grécia publicaram uma nota conjunta em que pedem que Israel garanta a segurança de todos os ativistas da missão e “permita todas as medidas de proteção consular”.
Desta vez, a flotilha foi organizada conjuntamente pelos coletivos Global March to Gaza, Sumud Convoy, Sumud Nusantara e coalizão Freedom Flotilla. Eles afirmaram ter arrecadado mais de € 90 mil (R$ 570 mil) em doações.
As últimas tentativas de abrir um corredor humanitário simbólico por mar foram frustradas pelas forças militares israelenses. Renderam, porém, repercussão midiática e maior visibilidade para o movimento contra o bloqueio.
Em maio, a embarcação Conscience foi atingida por dois drones em águas internacionais perto da ilha de Malta, às vésperas de levar 80 integrantes e insumos ao território. Na época, funcionários do governo israelense afirmaram que o barco transportava armamentos ao Hamas, o que foi contestado por uma inspeção maltesa.
Em junho, o veleiro Madleen foi interceptado a 180 km da costa de Gaza com 12 tripulantes, incluindo Greta e Thiago Ávila. O brasileiro ficou preso por cinco dias, isolado em solitária e sob maus-tratos, segundo sua família. Após intervenção do Itamaraty, foi expulso do país.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou o protesto de “iate das selfies” e os ativistas de “celebridades”. Após os tripulantes serem expulsos, publicou na rede social X: “Tchau, tchau. E não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partirem”.