A visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Jair Bolsonaro (PL), que está em prisão domiciliar, manteve a indefinição sobre o cenário da direita e a candidatura presidencial em 2026.
Segundo relatos do encontro, Tarcísio disse que está bem em São Paulo e discutiu com o ex-presidente as candidaturas ao Senado no estado no próximo ano.
O governador reforçou que o secretário Guilherme Derrite (Segurança Pública), filiado ao PP, está bem cotado para uma das duas vagas à Casa e que a outra candidatura será de escolha do ex-presidente –nos planos de Bolsonaro, ficará com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um de seus filhos.
Inelegível e condenado a quase 30 anos de prisão, o ex-presidente, segundo a Folha apurou, não tratou com Tarcísio sobre quem ele deve apoiar para o Palácio do Planalto no próximo ano.
Interlocutores do governador e do ex-presidente dizem que não cabe, neste momento, tratar do tema diretamente, até porque uma ofensiva aberta nesse sentido já foi alvo de críticas internas, sobretudo por parte dos filhos de Bolsonaro.
Há um entendimento de que ainda é preciso superar a discussão de anistia ou redução de penas no Congresso, ver o que será aprovado e aguardar os trâmites finais do julgamento da trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal). A defesa do ex-presidente e dos demais condenados deve apresentar embargos.
“Não vai ter decisão nenhuma enquanto a gente não souber com clareza o que vai acontecer com esse projeto da anistia”, disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao final do encontro. “Somente após esse processo legislativo e até o seu desenrolar final poderemos discutir nomes. Não há por que antecipar nada.”
Ele falou com jornalistas em frente ao condomínio de Bolsonaro e ao lado de Tarcísio —o que foi interpretado por dirigentes de partidos de centro como um gesto de alinhamento entre os dois. Um dos dirigentes ouvidos pela Folha afirmou que a demonstração de união também pareceu um recado a Eduardo, que tem criticado Tarcísio abertamente.
“O recado que eu quero dar para que não haja dúvidas é que, independentemente de como as coisas vão transcorrer daqui para frente, eu, o Tarcísio, nós, os partidos de centro-direita, vamos estar juntos de qualquer forma em 2026”, disse Flávio.
Apesar de o plenário da Câmara ter aprovado a urgência da proposta que concede anistia aos condenados nos ataques golpistas do 8 de Janeiro, incluindo Bolsonaro, o texto hoje está sendo construído em torno de uma redução de penas.
Os bolsonaristas dizem que ele não contempla o grupo, mas admitem reservadamente a possibilidade de negociar o projeto, com a garantia de que Bolsonaro consiga ficar em prisão domiciliar. A expectativa era de que a proposta pudesse ser votada nesta semana, mas as negociações continuam travadas.
Na toada de desacelerar especulações sobre eventual candidatura, Tarcísio disse a jornalistas após o encontro com Bolsonaro que é candidato à reeleição em São Paulo. “Isso já está claro. Vim fazer uma visita de cortesia, visitar um amigo”, disse, acrescentando que tem apenas gratidão e não interesses em relação a Bolsonaro.
Nesta terça, pressionado pela crise das bebidas com metanol em São Paulo, Tarcísio cancelou agenda que teria em escola para participar de reuniões e entrevistas sobre o tema.
Flávio e seu irmão mais novo, o vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan (PL), acompanharam a visita do governador a Bolsonaro. Outro filho do ex-presidente, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) estava em Brasília, mas só se encontrou com o pai ao final do dia. Ele tem sido crítico a governadores de direita e interlocutores dos partidos do centrão que buscam articular a campanha de Tarcísio.
O encontro de Tarcísio e Bolsonaro, que durou três horas, começou com um almoço e incluiu conversas sobre futebol e lembranças do governo, segundo relatos. O governador de São Paulo foi ministro da Infraestrutura do governo do ex-presidente.
O clima de desânimo instaurado entre entusiastas de uma eventual campanha de Tarcísio em 2026 não foi alterado após a visita. O prazo para eventuais anúncios depende da conjuntura envolvendo Congresso e Judiciário, e hoje o entorno do governador projeta uma definição para o início do ano que vem.
Um interlocutor de Tarcísio disse que, atualmente, o cenário pende mais para que ele fique no estado e tente a reeleição, como indicou na conversa com o ex-presidente, ao reforçar que está confortável na vaga que ocupa.
Para que ele deixe um a reeleição em que está bem posicionado é preciso ter uma série de conversas e arranjos, e Bolsonaro ainda não se dispôs a tratar disso, segundo esse aliado.
Outros reforçam que não está descartada a saída do governador para disputar o Palácio do Planalto, mas que isso dependerá de um apoio explícito do ex-presidente e de seus familiares, o que, até o momento, não ocorreu.
Na ausência de Bolsonaro do jogo eleitoral, o plano A dos partidos de centrão e de direita continua sendo Tarcísio. Há uma ansiedade em torno da organização das candidaturas e dos partidos em torno dessa eventual campanha, mas os dirigentes dizem entender que isso só ocorrerá após definição do ex-presidente.
O plano B, neste caso, seria o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), que buscou contato com políticos e empresários paulistas ao longo da última semana, diante da desacelerada do entorno de Tarcísio.
Segundo interlocutores, no entanto, o nome do governador do Paraná não surgiu nas conversas da visita de Tarcísio a Bolsonaro.