O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou um vídeo em suas redes sociais na noite desta quinta-feira (29) que tenta ridicularizar líderes democratas no momento em que sua gestão tenta resolver um impasse na proposta orçamentária com o Congresso para evitar o chamado shutdown, um apagão econômico do governo.
A peça foi editada para o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, aparecer com um sombreiro e um bigode ao lado do líder democrata do Senado, Chuck Schumer. Ao som de uma música regional mexicana, uma voz fala, como se fosse o senador dizendo, que “ninguém mais gosta dos democratas”.
“Nem mesmo a população negra quer votar na gente mais. Até os latinos nos odeiam. Então precisamos de novos eleitores, e se dermos saúde gratuita a todos esses imigrantes ilegais, podemos trazê-los para o nosso lado e eles podem votar em nós. Eles nem mesmo sabem falar inglês, então não vão perceber que nós somos uns merdas ‘woke'”, afirmou, usando o termo que se refere negativamente a políticas e pessoas progressistas.
Ambos reagiram à provocação. “A intolerância não levará você a lugar nenhum. Cancelem os cortes. Reduzam os custos. Salvem a saúde. Não vamos recuar”, escreveu Jeffries na rede social X. “Se você acha que seu shutdown é uma piada, isso só prova o que todos nós sabemos: você não sabe negociar. Você só sabe fazer birras”, disse Schumer na mesma plataforma.
O vídeo original é de uma entrevista coletiva dada pelos políticos logo após eles saírem de uma reunião de última hora com Trump, também nesta quinta. O encontro, que terminou sem um acordo, envolveu ainda o líder da maioria no Senado, John Thune, e o presidente da Câmara, Mike Johnson, ambos republicanos.
Na ocasião, Schumer afirmou que Trump havia ouvido pela primeira vez as objeções dos democratas em relação à proposta orçamentária do governo. “[Ele] entendeu por que precisávamos de um projeto de lei bipartidário. O projeto deles não tem a mínima participação democrata”, disse o senador. “Isso nunca aconteceu antes.”
Apesar disso, continuou Schumer, ainda havia grandes diferenças entre os dois, especialmente no que diz respeito ao financiamento da saúde —os democratas querem modificar o projeto de lei de gastos obrigatório para estender os benefícios de saúde que expiram no final do ano para milhões de americanos. Já os republicanos dizem que devem tratar dessa questão separadamente.
Caso não haja um acordo antes do fim desta terça (30), as operações não essenciais do governo serão suspensas. Isso significa que centenas de milhares de funcionários públicos ficarão temporariamente sem salário e o pagamento de muitos benefícios sociais será interrompido.
“Está nas mãos do presidente evitar ou não uma paralisação”, disse o senador. “Ele precisa convencer os líderes republicanos.”
Thune, por sua vez, criticou a proposta democrata para a saúde e jogou a responsabilidade de volta para os democratas. “Não existe um mundo em que eles sejam realistas. Esta é uma proposta totalmente sem seriedade”, afirmou. “Depende deles, a bola está na quadra deles, e isso é política para eles.”
Está em jogo US$ 1,7 trilhão que financia operações de agências do governo, o que representa aproximadamente um quarto do orçamento total de US$ 7 trilhões do governo.
O projeto já foi aprovado pelos republicanos na Câmara dos Representantes, onde possuem uma estreita maioria. Para a aprovação definitiva no Senado, entretanto, são necessários pelo menos sete democratas para chegar aos 60 votos necessários em um universo de 100 cadeiras.
Para os democratas, trata-se de uma oportunidade rara para tentar restabelecer programas inteiros para famílias de baixa renda e recuperar crédito perante o eleitorado —embora Trump e os republicanos não desfrutem de grande popularidade nas pesquisas, os democratas estão em uma posição pior, com pouco mais de 30% de aprovação, segundo sondagens.