A cena poderia ser de um filme qualquer de ação: uma perseguição acaba com policiais frustrados que assistem ao “bandido” sumir, entre os carros, numa bicicleta. Mas era um episódio real, e eu me peguei na torcida pelo fugitivo, um entregador, desses com quem cruzamos às dezenas todos os dias, que conseguiu driblar a truculência do Estado americano e sua caça aos imigrantes.
Esses vídeos tomaram conta do meu algoritmo, que serve um faroeste com estética xenofóbica: pele escura tratada como suspeita, sotaque transformado em crime, sobrenome estrangeiro carimbado como ameaça. Todos os dias vejo homens e mulheres, velhos e crianças arrastados, pisoteados, encurralados, espancados nessa cruzada insana promovida por Donald Trump.
O presidente americano vendeu a narrativa como política de ordem, mas os números frios e incômodos desmontam a verdadeira intenção. São cerca de 60 mil prisões e, pela primeira vez nesta segunda administração Trump, a conta da detenção mostra mais gente sem ficha do que presos por crime comprovado.
Foi assim com a brasileira Bárbara Marques, casada com um americano, que entrou num prédio para resolver pendências do green card e foi levada por uma porta. Vítima de uma emboscada com carimbo oficial, tratada como criminosa pelo governo, como se amor, papel passado e direitos humanos não valessem nada. Sob a ótica trumpista, não valem.
Quem são os bandidos? De um lado, uma maioria de gente indefesa, trabalhadora, com nomes, sonhos, vínculos, vidas. Lares despedaçados, empregos interrompidos, crianças com medo de abrir a porta. Do outro lado, autoritarismo, brutalidade, falta de empatia, intimidação, o fascismo em estado bruto.
Os Estados Unidos sempre exaltaram os imigrantes como parte da sua fundação —eles aparecem nos discursos de praticamente todos os presidentes americanos do último século.
Hoje, essa mesma gente virou alvo. E mesmo com cada ação filmada, registrada e compartilhada, para que o mundo testemunhe, os agentes do governo seguem sem se importar. Sigo na torcida pelos mocinhos.
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