O governo de Donald Trump está deportando cerca de cem iranianos de volta ao Irã em um voo fretado pelos Estados Unidos, após um acordo entre os dois países, segundo dois altos funcionários iranianos envolvidos nas negociações e um funcionário norte-americano com conhecimento dos planos.
As autoridades iranianas disseram que o avião, fretado pelos EUA, decolou da Louisiana na noite de segunda-feira (29) e deve chegar ao Irã, via Qatar, nesta terça-feira (30). O funcionário americano confirmou que os planos para o voo estavam em fase final. Todos os funcionários falaram ao The New York Times sob condição de anonimato, pois não estavam autorizados a discutir detalhes publicamente.
A deportação é um dos esforços mais contundentes até agora do governo Trump para expulsar migrantes, independentemente das condições de direitos humanos para as quais seriam enviados. Neste ano, os EUA já haviam deportado um grupo de iranianos —muitos deles convertidos ao cristianismo e, portanto, sujeitos a perseguição em seu país— para a Costa Rica e o Panamá. A expansão da campanha de deportações gerou processos movidos por defensores de imigrantes, que criticaram os voos.
Por décadas, os Estados Unidos ofereceram abrigo a iranianos que fugiam de seu país, conhecido pelo histórico de violações de direitos humanos. O Irã persegue ativistas de direitos das mulheres, dissidentes políticos, jornalistas e advogados, minorias religiosas e membros da comunidade LGBTQIA+, entre outros.
As identidades dos iranianos deportados não foram divulgadas, e os motivos que os levaram a tentar imigrar para os EUA não estavam imediatamente claros. Nos últimos anos, houve aumento de migrantes iranianos chegando à fronteira sul dos EUA e cruzando de forma ilegal, muitos sob o argumento de medo de perseguição em razão de crenças políticas e religiosas.
Durante muito tempo, os EUA hesitaram ou tiveram dificuldades para deportar migrantes a países como o Irã devido à falta de relações diplomáticas normalizadas e à dificuldade de obter documentos de viagem em tempo hábil. Isso forçava as autoridades americanas a manter migrantes detidos por longos períodos ou liberá-los em território norte-americano. Em 2024, os EUA deportaram pouco mais de 20 iranianos de volta ao país, o maior número em anos, em diversos voos comerciais.
Segundo os dois funcionários iranianos, os deportados incluíam homens e mulheres, entre eles alguns casais. Parte deles havia concordado em sair após meses em centros de detenção, e outros não. As autoridades disseram que, em quase todos os casos, os pedidos de asilo tinham sido negados ou ainda não haviam sido julgados.
A deportação representa um raro momento de cooperação entre EUA e Irã, resultado de meses de conversas entre os dois países, disseram os funcionários iranianos.
Um deles afirmou que o Ministério das Relações Exteriores iraniano estava coordenando o retorno dos deportados e que havia recebido garantias de que estariam seguros e não enfrentariam problemas. Ainda assim, segundo ele, muitos estavam decepcionados e alguns até assustados.
Além da repressão política, o Irã enfrenta uma grave crise econômica e energética, com desvalorização da moeda, inflação alta, desemprego e cortes de água e energia. A situação deve se agravar ainda mais com o retorno das sanções do Conselho de Segurança da ONU, que entraram em vigor no último sábado (27).
