O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), faz uma visita, nesta segunda-feira (29), ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar em Brasília. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Jair Renan (PL), de Balneário Camboriú (SC), acompanham o encontro.
O governador chegou ao condomínio de Bolsonaro, no Jardim Botânico, por volta das 13h30. A visita foi solicitada por Tarcísio no último dia 15, mas autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), somente para esta segunda —o ex-presidente tinha visitas nos dias anteriores.
Tarcísio publicou em sua agenda oficial a viagem a Brasília, mas não mencionou o encontro com Bolsonaro.
Pouco antes da chegada de Tarcísio, um grupo de cinco manifestantes exibiu uma faixa, na entrada do condomínio, com a frase: “E aí Tarcísio, já desistiu da Presidência?”. Eles também gritaram “sem anistia”.
Os aliados devem tratar das eleições presidenciais de 2026 e do projeto de redução de penas aos condenados por golpismo que tramita na Câmara dos Deputados. Se há um mês a eventual candidatura presidencial de Tarcísio estava em alta, alavancada por dirigentes do centrão, agora sua perspectiva é de concorrer à reeleição no estado.
Nesta segunda, deputados aliados ao governador voltaram a afirmar que Tarcísio não quer disputar o Palácio do Planalto e que sua prioridade é a reeleição, mas admitem que há espaço para mudanças até março, quando ele teria que deixar o cargo para concorrer à Presidência.
Em relação ao projeto de redução de penas para Bolsonaro e os presos do 8 de Janeiro, que é relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade), Tarcísio já declarou ser favorável.
A avaliação de aliados de Bolsonaro é que o ex-presidente deve aceitar um acordo para o projeto de redução de penas, contanto que haja garantia da manutenção de sua prisão domiciliar. Por ora, a orientação do PL é de buscar uma anistia ampla, mas a cúpula do Congresso não vê espaço para essa proposta avançar.
Afilhado político de Bolsonaro, Tarcísio é o presidenciável preferido do centrão e de setores da economia, mas a oscilação entre a moderação e o bolsonarismo que lhe acompanha desde que concorreu ao Palácio dos Bandeirantes agora se mostra também um entrave para a corrida de 2026.
No início de setembro, o julgamento de Bolsonaro no STF e a articulação de Tarcísio pela anistia, que fez a pauta ganhar adeptos no Congresso, impulsionaram o governador sob a perspectiva de que o ex -presidente declararia apoio a ele na corrida. O emprenho pelo perdão é considerado um gesto importante para conquistar a ala mais radical do bolsonarismo.
Agora, o cenário é outro. A anistia é tida como inviável na Câmara e perdeu espaço para a redução de penas, Bolsonaro insiste em ser candidato, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirma que também vai concorrer mesmo sem a bênção do pai, Lula (PT) recuperou popularidade e teve sinalização positiva de Donald Trump, houve manifestações da esquerda contra a anistia e a PEC da Blindagem, e o discurso radical de Tarcísio contra o STF no 7 de Setembro foi tido como um erro pelos setores que o apoiam.
Como mostrou a Folha, Tarcísio freou a ofensiva para uma eventual candidatura presidencial em meio a uma onda de desânimo na direita com a resistência do clã Bolsonaro em se decidir sobre 2026. Sua exposição como presidenciável nas últimas semanas lhe rendeu ataques de Lula e de Eduardo.
Entre os quadros de direita e de centro havia a expectativa de que, após o julgamento no STF, Bolsonaro, que está inelegível e condenado a 27 anos de prisão, indicasse com mais segurança que passaria o bastão a Tarcísio, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, a família mantém o discurso de candidatura do ex-presidente.
Antes do discurso do 7 de Setembro, Tarcísio contou com a boa vontade de Moraes para furar a fila de pedidos de visita a Bolsonaro e autorizar um encontro entre os dois políticos no início de agosto.
O governador tentou a mesma estratégia em 15 de setembro ao pedir ao Supremo autorização para visitar Bolsonaro no dia seguinte. Moraes permitiu que a visita ocorresse somente duas semanas depois, sob o argumento de que a agente de Bolsonaro já estava preenchida até aquele momento.
Nem mesmo a tentativa da defesa de Bolsonaro de fazer um rearranjo nas visitas para priorizar Tarcísio foi levado em consideração por Moraes, o que fez o governador cancelar sua viagem à Brasília na época.