No conflito de interesses entre a Câmara e o Senado, o melhor lado ainda é o da briga. Ao menos enquanto as divergências interditarem acordos espúrios e preservarem o mínimo de decência na condução dos trabalhos no Congresso.
Não é o que parecem pretender deputados que dizem estar preparados para retaliar os senadores por causa da derrubada da PEC da Blindagem e do freio imposto à anistia travestida de dosimetria.
Pelo visto, não estão satisfeitos com a traulitada tomada nas ruas e no plenário da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Prometem vingança, ameaçam barrar iniciativas da casa vizinha e implicar seus ocupantes nas fraudes ora em exame na CPI mista do INSS.
Pois que façam; se não tiverem razões substantivas, vai ser pior para eles. Tiros aleatórios com anúncio prévio e carimbo de autoria costumam atingir em cheio os atiradores. Será mais um erro de cálculo com atestado de burrice passado no cartório da inconsequência.
No caso, a conciliação não é o melhor remédio. Imaginemos que reinasse a paz entre deputados e senadores, que o acerto para aprovação da blindagem em troca da anistia tivesse prosperado.
Não estivesse o Senado atento ao alcance da coisa, teríamos hoje aprovada e promulgada, sem o recurso do veto presidencial, a emenda que submetia ações na Justiça ao aval dos parlamentares, restituía o voto secreto e, de lambuja, dava foro por prerrogativa de função pública a presidentes de partidos, associações de direito privado.
Estaríamos na dependência de o Supremo Tribunal Federal evitar esse rebaixamento institucional, vendo gente boa (mais ou menos) reclamar do ativismo judicial, pregando por aí sobre a legítima prerrogativa parlamentar de emendar a Constituição.
Já há bombeiros se mexendo para apagar o fogo em nome da pacificação que, assim como a dita polarização, anda servindo a quaisquer causas. Nem sempre nobres. A água fria baixa a febre, mas não cura a infecção.
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