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Contra Ocidente, Putin amplia diplomacia nuclear da Rússia – 28/09/2025 – Mundo

Em sua busca pela manutenção da capilaridade global da Rússia em meio ao cerco do Ocidente, uma cortesia da invasão da Ucrânia em 2022, o presidente Vladimir Putin resolveu flexionar uma parte bastante intacta de sua musculatura econômica: a nuclear.

Desta vez não houve ameaças veladas ou abertas do recurso ao maior arsenal atômico do mundo como em diversos momentos do embate contra os aliados de Kiev, mas sim um grande evento centrado na gigante estatal russa do setor, a Rosatom.

Realizada em Moscou de quinta-feira (25) a este domingo (28), a Semana Atômica Mundial nominalmente celebrou os 80 anos da indústria nuclear do país de Putin, pioneiro em diversas tecnologias do setor quando ainda atendia pelo nome de União Soviética.

Mas o que ocorreu foi uma demonstração daquilo que já havia sido visto quando as sanções de Donald Trump empurraram o indiano Narendra Modi para sua primeira visita à China em sete anos, no mês passado, quando o premiê posou para felizes fotografias com Putin e o líder Xi Jinping.

Aqui, contudo, o show é do russo. Ao longo dos dois primeiros dias do evento em Moscou, foram assinados memorandos para a construção de quatro pequenas usinas no Irã, por US$ 25 bilhões (R$ 133 bilhões). O país persa, que vive sua briga particular com os EUA e Israel acerca de seu programa nuclear, já é cliente atômico da Rosatom.

Outro aliado próximo, Belarus, afirmou querer uma segunda planta nuclear russa no país e prometeu vender parte da produção energética para as regiões ocupadas por Putin no leste e sul da Ucrânia.

Continuando sua investida sobre a África, os russos também começaram negociações para construir uma usina na Etiópia e duas no Níger. Outro regime totalitário isolado pelo Ocidente, Mianmar, quer uma unidade também.

Não menos importante, um passo importante na construção da primeira usina nuclear da Turquia, membro da mesma Otan que apoia a Ucrânia e é cliente da Rosatom, foi transmitido ao vivo na abertura da festa russa.

Putin falou, na abertura da Semana, em combater o que chamou de “colonialismo tecnológico”, mas a realidade tem matizes.

“Hoje a Rosatom é a número um do mundo”, afirmou o diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), Rafael Grossi. Voz independente em meio a simpatizantes claros das ofertas nucleares de Putin, o argentino buscou moderar um pouco o entusiasmo generalizado.

“Não basta ter dinheiro [para receber instalações atômicas], é preciso haver instituições prontas para lidar com isso, regulação e padrões de segurança”, disse, puxando a sardinha do papel da AIEA à brasa. “Todo mundo quer um SMR [sigla inglesa para Reator Modular Pequeno, usinas em miniatura]. Só que há 80 modelos, e talvez só 8 chegarão ao mercado.”

Mesmo o diretor-geral da Rosatom, Alexei Likhatchev, afirmou que o compartilhamento de tecnologia nuclear sempre gera questões acerca do risco de proliferação indevida de materiais do setor. Ao mesmo tempo, ele vê a ampliação do mercado como inevitável.

Os motivos são a qualidade verde da matriz, que na produção elétrica que lhe é central não emite carbono, apesar de outras etapas emitirem, e a demanda mundial por energia para aplicações de inteligência artificial.

A Rosatom é um colosso de mais de 400 mil funcionários em cerca de 400 subsidiárias. Responde por 20% da eletricidade consumida pela Rússia e pretende dobrar isso. Tem reatores em sete países e pedidos que somam R$ 1,1 trilhão em 11 nações.

Também lidera o estratégico mercado de urânio enriquecido, com 36% do setor, e é o terceiro maior fornecedor de combustível nuclear do mundo —sendo o principal ator nos EUA, que querem descontinuar a dependência até o fim da década.

Ainda assim, tudo isso manteve a Rosatom basicamente isenta das sanções ocidentais decorrentes da guerra com o vizinho —afinal, 20% de sua receita de R$ 222 bilhões em 2024 veio dos chamados “países não amistosos”, no léxico do Kremlin.

Isso não a isenta de críticas no Ocidente, claro. A empresa é parte central do esforço de Putin para manter sua economia viva na guerra, e é responsável justamente pela fabricação e manutenção de ogivas nucleares da Rússia. Ela inclusive testa armas novas, como o míssil de cruzeiro atômico Burevestnik, de complexo desenvolvimento.

A movimentação ajuda a manter Putin em uma posição de força, apesar de ele ser tachado de isolado pelo Ocidente, restando sempre saber qual será o comportamento da semana de Trump.

A influência da Rosatom se estende ao Brics. O grupo criou a chamada Plataforma Nuclear, visando coordenar investimentos que agora são incentivados até pelo antes reticente Banco Mundial. O banco do bloco, liderado pela brasileira Dilma Rousseff, é candidato a abrir o bolso.

Até aqui, contudo, é uma carta de intenções. “Estamos conversando”, resumiu à reportagem a chefe da Plataforma, a sul-africana Elsie Pule.

O jornalista viajou a convite da Rosatom

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