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Sylvia Colombo: Cuba vive apagar das luzes – 27/09/2025 – Sylvia Colombo

Cuba vive meses dramáticos, e um sinal disso foi o mais recente apagão nacional. Os cubanos somaram 28 horas consecutivas sem luz no quinto blecaute de alcance nacional em menos de dois anos. Apagões “menores”, de várias horas por dia, têm sido comuns.

O sistema elétrico cubano está deteriorado e sem infraestrutura para atender aos 11 milhões de habitantes da ilha. Especialistas estimam que Cuba precisaria de US$ 8 bilhões a 10 bilhões em investimentos por dez anos para recuperar o setor. O governo tapou buracos alugando usinas flutuantes turcas e instalando parques solares com apoio chinês. Mas, no cotidiano, o que se vê são semáforos apagados, serviços parados, gente correndo para comprar o básico antes de escurecer e cozinhando à base de lenha.

Para o professor Roberto Goulart Menezes (UnB), o quadro atual é resultado de longas ondas de crise. “Cuba até 1991 tinha o apoio da então União Soviética. Depois veio a sobrevida dada pela Venezuela. Mas agora as coisas ficaram muito mais difíceis.”

Há dez anos, Barack Obama fez renascer a esperança do fim do embargo e das sanções, mas a volta de Trump e a inércia de Biden causaram um retrocesso na relação com os EUA. A manutenção de Cuba na lista de países que patrocinam o terrorismo não ajuda em nada. As remessas do exterior, neste contexto, estão dificultadas.

O blecaute é um termômetro do triste presente da ilha. A crueldade do momento, porém, é que a expansão do setor privado e o surgimento das chamadas Mipymes (Micro, Pequenas e Médias Empresas) em 2021 criaram um país de prateleiras distintas para bolsos diferentes.

Programas independentes que monitoram preços registram uma Cuba de várias moedas e mercados: a mesma comida custa uma coisa na bodega estatal, outra na feira, outra nas lojas em MLC (moeda livremente conversível) e outra ainda nas Mipymes ou no paralelo.

Relatos se multiplicam de famílias que passaram a comer apenas uma vez ao dia. A Unicef estima que 1 em cada 10 crianças vive em pobreza alimentar severa; o Observatório Cubano de Direitos Humanos aponta que 7 em cada 10 cubanos deixaram de tomar café, almoçar ou jantar e que quase 89% vivem em extrema pobreza.

As Mipymes somam pouco mais de 10 mil registros. Operam num ecossistema em que a MLC serve para importar insumos e vender. A MLC não circula em espécie: entra por remessas, turismo ou por quem troca pesos cubanos (CUP) por dólar no paralelo. Só que quem recebe em CUP vê prateleiras, mas não alcança os produtos.

Na prática, as Mipymes abriram espaço para restaurantes com cardápio “internacional”, cafés e padarias abastecidos, mercearias privadas com queijos, enlatados, higiene e eletroportáteis —tudo precificado em MLC e aceitando cartões estrangeiros. O problema é que o cubano médio ganha em CUP; mesmo com o salário médio reajustado para 6.649 pesos (cerca de US$ 15 no câmbio informal), a cesta em MLC é impagável para a maioria.

O resultado são dois mercados. Num, há variedade e refrigeração; no outro, filas e desabastecimento.

O pano de fundo político não contribui. “Díaz-Canel não é uma figura carismática; é um burocrata. Seus discursos são mais reativos do que ativos, como os de Fidel”, diz Menezes.

O projeto cubano vive a cruel ironia de conviver não só com a pobreza, mas também com uma dramática desigualdade.


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