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Evangélicos negros se veem em dilema sobre Charlie Kirk – 25/09/2025 – Mundo

Horas após o assassinato de Charlie Kirk em Utah, o pastor Jamal Bryant condenou o assassinato do ativista de direita nas redes sociais. Vídeos do evento o chocaram e horrorizaram, disse Bryant, líder de uma grande igreja predominantemente negra no subúrbio de Atlanta.

Mas, nos dias que se seguiram, Bryant disse ter ficado nervoso com os conservadores e cristãos brancos elogiando Kirk, ignorando alguns de seus discursos mais controversos, particularmente em questões raciais.

Muitos cristãos conservadores —particularmente evangélicos brancos— em todo o país têm enaltecido Kirk dizendo que ele morreu enquanto fazia proselitismo por seus ideais conservadores influenciados pelo cristianismo. Alguns compararam seu assassinato ao do líder dos direitos civis Martin Luther King Jr.

Dezenas de milhares de pessoas no memorial de Kirk em um estádio de futebol americano no Arizona, no último domingo (21), ouviram por horas os palestrantes enquadrarem sua morte em termos religiosos rígidos, como parte de uma “guerra espiritual” que faria crescer o cristianismo conservador e o alinharia mais estreitamente com o governo dos EUA.

Os convidados chamaram Kirk de “mártir” e “profeta”. Seus colegas do Turning Point USA, um movimento jovem conservador, disseram que o evento, com a presença do presidente Donald Trump, concretizou o sonho de Kirk de “trazer o Espírito Santo para um comício de Trump”.

A morte de Kirk —e a aceitação de seu legado por alguns cristãos conservadores— está forçando alguns cristãos negros, como Bryant, a conciliar os comentários insultuosos de Kirk sobre a população negra, que muitos consideravam racistas, com os valores de tolerância e empatia que são fundamentais para sua fé.

“Acredito que a lealdade deles à sua associação política supera sua conexão com a cruz”, disse Bryant sobre os líderes da igreja que elogiaram Kirk. “Este é realmente um momento crítico para as relações raciais no país, e o que a igreja diz, faz ou deixa de dizer terá um papel ativo nisso.”

Depois de postar nas redes sociais que alguém pode acreditar simultaneamente que a violência é errada e que “a forma como alguém morre não apaga a forma como viveu“, referindo-se a Kirk, Bryant disse ter sido inundado com mensagens mordazes.

“A quantidade de discurso de ódio que minha esposa e eu recebemos nas redes sociais, o número de ligações depreciativas, insultos e declarações pejorativas deixadas em nossa igreja falam por si”, afirmou Bryant. “E tudo isso é dito por pessoas que se dizem cristãs.”

Em entrevistas, pastores negros disseram que se sentiram ofendidos com a visão de Kirk sobre diversidade, incluindo a descrição da aprovação da histórica Lei dos Direitos Civis de 1964 como “um grande erro”.

Em um episódio de seu podcast, Kirk criticou o anúncio de 2021 da United Airlines de que 50% dos formandos de sua academia de treinamento de voo seriam mulheres ou negros, dizendo: “Se eu vir um piloto negro, vou pensar: ‘Cara, espero que ele seja qualificado'”. Mais tarde, Kirk justificou que seus comentários tinham o objetivo de ilustrar que “a DEI [diversidade, equidade e inclusão] convida ao pensamento preconceituoso” e que ele acreditava que “qualquer pessoa, de qualquer cor de pele, pode se tornar um piloto qualificado”.

Líderes religiosos negros também se opuseram às comparações da morte de Kirk com o assassinato de Luther King, a quem Kirk certa vez chamou de “terrível”. Eles temem que os esforços para enaltecer Kirk aprofundem o abismo entre evangélicos negros e brancos e revertam uma tendência bem-vinda de integração em algumas congregações. Alguns dizem que estão tentando encontrar maneiras de celebrar a capacidade de Kirk de espalhar uma mensagem cristã, apesar de seus comentários às vezes racialmente divisivos.

Após a morte de Kirk, Stanley Talbert, pastor da Igreja de Cristo Normandie, em Los Angeles, que tem uma congregação predominantemente negra, disse que alguns membros pediram que a congregação orasse por Kirk. Em seu sermão, ele procurou condenar o assassinato de Kirk, reconhecendo que os negros também foram vítimas de violência, observando que pelo menos cinco faculdades e universidades historicamente negras receberam ameaças na semana de sua morte.

É uma mensagem, segundo ele, que o deixa “entre a cruz e a espada”. “Cristãos negros têm empatia”, afirmou Talbert. “A frustração é que outros grupos étnicos não têm empatia pela experiência e pelo sofrimento dos negros.”

Esau McCaulley, professor associado de Novo Testamento no Wheaton College, em Illinois, disse que está tentando encontrar um equilíbrio delicado ao abordar a morte de Kirk perante a congregação multirracial da igreja onde é pastor fundador. As palavras do ativista provavelmente magoaram muitos membros, segundo McCaulley, mas sua morte roubou de Kirk a chance de aprofundar sua compreensão de que a empatia é “um superpoder cristão”.

“Acredito que, não importa quem você seja ou o que tenha feito, você tem o potencial de crescer e mudar para ser melhor. E por essa razão, a morte de qualquer pessoa é uma tragédia”, disse McCaulley. “É triste se alguém morre no meio de sua história e nunca conseguimos ver como o resto muda, porque você nunca sabe o que Deus poderia fazer na vida de alguém.”

A necessidade de responder à morte de Kirk testa a capacidade da igreja de superar quaisquer divisões raciais persistentes, disse ele. “Eventos nacionais não definem o que é uma congregação”, afirmou McCaulley. “Eles revelam onde a congregação está.”

Entre alguns pastores negros de tendência conservadora, o terrível assassinato público de Kirk e a resposta mista a ele, incluindo aqueles que criticaram a retórica inflamada do ativista, também geraram reações angustiadas.

Três dias após o assassinato de Kirk, B. Dwayne Hardin, fundador e pastor da igreja Embassy ATL, ao norte de Atlanta, mal havia começado seu sermão de sábado quando reconheceu que nem todos os seus fiéis poderiam querer ouvir o que ele estava prestes a dizer.

“Vocês podem me ignorar agora porque acham que estou indo em uma determinada direção”, afirmou Hardin. “Se for mais fácil para vocês, podem ir embora. Estou bem.”

Hardin, um apoiador de Trump que organizou um evento “Crentes por Trump” em sua igreja no ano passado, disse à congregação que ficou chocado com o assassinato de Kirk e também horrorizado com as ações de pessoas que se dizem cristãs, mas depois se alegram com “a destruição das pessoas ao nosso redor”.

“Para vocês celebrarem ou não terem sensibilidade para a morte de um homem com esposa e filhos. Que diabos?” Na plateia, as pessoas aplaudiram e uma mulher gritou: “Sim!”.

Hardin, que não respondeu a um pedido de comentário, sugeriu que muitas pessoas não entendiam completamente quem Kirk era —incluindo como ele havia ministrado ao redor do mundo por sua fé cristã. “Quem somos nós para desejar o mal a alguém porque vocês não entendem completamente quem essa pessoa era?”, questionou Hardin.

A fé de Kirk se tornou uma parte muito maior de sua mensagem nos últimos anos. “Quero ser lembrado pela coragem demonstrada na minha fé. Isso seria o mais importante. O mais importante é a minha fé”, disse ele em um podcast em junho. Ele também pediu o fim da separação entre Igreja e Estado.

Mas nem todos os conservadores negros dizem ser capazes de ignorar os comentários de Kirk sobre raça. O reverendo Dwight McKissic, que lidera uma igreja negra conservadora em Arlington, no Texas, disse concordar com “cada palavra” do que Kirk falou sobre a Bíblia —mas não com seus comentários sobre raça.

A aceitação de Kirk por líderes religiosos, apesar de suas opiniões sobre diversidade, provavelmente agravará as fissuras entre evangélicos negros e brancos, afirmou McKissic. Ele afrouxou os laços entre sua igreja, a Igreja Batista Cornerstone, e a Convenção Batista do Sul nos últimos anos, disse ele, devido à preocupação de que os evangélicos brancos não se importam o suficiente com o combate ao racismo.

“É um mistério para os negros como os evangélicos conseguem ouvir todas essas citações, não importa o quanto tentem contextualizá-las, e aceitem isso”, afirmou. “Isso nos permite saber que estamos adorando e tendo comunhão com pessoas que nos veem exatamente como Charlie Kirk vê os pilotos de avião negros.”

Enquanto isso, ele está dizendo aos seus fiéis para se prepararem. “Essa coisa do Charlie Kirk acelerou as coisas. Eu disse ao meu povo para se preparar espiritualmente, financeiramente. Preparem suas casas”, afirmou ele. “Preparem tudo o que for preciso, para o caso de uma guerra civil estourar.”

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