O rei Charles 3º recebeu Donald Trump nesta quarta-feira (17) quando começou a histórica segunda visita de Estado do presidente dos Estados Unidos ao Reino Unido, marcada por pompa sem precedentes, forte esquema de segurança, investimentos em tecnologia e milhares de pessoas em protestos.
Trump e sua esposa, Melania, chegaram ao castelo de Windsor —considerado o mais antigo ainda habitado e o maior do mundo, que serve de residência da família real britânica há quase mil anos. Eles foram recebidos pelo monarca, a rainha consorte Camilla, pelo herdeiro príncipe William (“muito bonito”, segundo o republicano) e sua esposa, Kate, antes de uma procissão de carruagem pelos terrenos do castelo.
Houve ainda um banquete luxuoso para 150 convidados, parte do que o Reino Unido descreveu como a maior recepção militar cerimonial para uma visita de Estado em memória recente.
“Nossos países trabalham juntos para apoiar os esforços diplomáticos cruciais, em particular, senhor presidente, seu compromisso pessoal para encontrar soluções para alguns dos conflitos mais insolúveis do mundo, com o fim de garantir a paz”, disse o rei durante o banquete.
Trump, fã declarado da realeza, não escondeu sua satisfação por ser não apenas o primeiro líder dos EUA, mas o primeiro político eleito convidado por um monarca britânico para duas visitas de Estado. Ao chegar, disse aos jornalistas que adora o Reino Unido: “É um lugar muito especial”. Ele também chamou a visita de “uma das maiores honras” da vida dele.
Sorrindo e conversando com o rei, o presidente inspecionou uma guarda de soldados usando uniformes escarlates e chapéus de pele de urso. O americano recebeu de Charles e Camilla a bandeira britânica que tremulou sobre o Palácio de Buckingham no dia de sua posse e presenteou os monarcas com a réplica de uma espada pertencente ao ex-presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower, relembrando “a parceria histórica que foi decisiva para a vitória na Segunda Guerra Mundial”.
Em seguida, os membros da realeza apresentaram itens históricos da Coleção Real relacionados aos EUA e conduziram o americano à Capela de Saint George, local do túmulo da Rainha Elizabeth, que recebeu Trump em sua primeira visita de Estado ao Reino Unido, em 2019. Ele colocou uma coroa de flores sobre seu túmulo.
Estava planejado ainda um sobrevoo com caças F-35 do Reino Unido e dos EUA, símbolo da colaboração em defesa entre os dois países, mas a apresentação foi cancelada devido ao mau tempo. Mesmo assim, aviões da Força Aérea britânica fizeram uma demonstração com fumaça vermelha, branca e azul sobre o Castelo de Windsor.
Para Charles, a visita pode despertar sentimentos mistos. Ele tem pouco em comum com Trump, desde seus 50 anos de defesa de causas ambientais até seus esforços por harmonia entre religiões e seu recente apoio firme ao Canadá, do qual é chefe de Estado.
Nesta quinta-feira (18), segundo dia da visita, o foco será a geopolítica. Trump se reunirá com o primeiro-ministro, Keir Starmer, que espera usar esse sentimento a favor do Reino Unido para consolidar a “relação especial” entre os dois países, aprofundar laços econômicos, garantir bilhões de dólares em investimentos, discutir tarifas e pressionar o presidente americano sobre Ucrânia e Israel.
Questões delicadas sobre o financista Jeffrey Epstein, que morreu na prisão em 2019 depois de ser detido sob acusações de abuso e exploração sexual de menores, também podem surgir. Na semana passada, Starmer demitiu o então embaixador britânico em Washington, Peter Mandelson devido a seus vínculos com o criminoso sexual, o que pode gerar perguntas tanto para Starmer quanto para Trump, cuja relação com o investidor americano também já foi alvo de críticas.
Embora a segurança para a visita fosse rígida, com uma grande operação policial em Windsor, manifestantes realizaram um protesto na cidade na terça-feira (16). Quatro pessoas foram presas após o grupo “Led by Donkeys” (Liderados por Burros, em tradução livre), que critica políticos com campanhas muitas vezes humorísticas, projetar imagens de Trump ao lado de Epstein nas paredes do castelo.
Entre as projeções estava uma carta na qual Trump se refere a Epstein como amigo e deseja que “cada dia seja outro segredo maravilhoso”. O texto aparece acompanhado do desenho de uma silhueta feminina nua. Além disso, foram exibidas em Windsor imagens de mulheres que se apresentaram como vítimas de Epstein, recortes de reportagens sobre o caso e trechos de relatórios policiais.
Já em Londres, a 40 km da cidade de Windsor, milhares protestaram contra o republicano. A manifestação, organizada pelo grupo “Stop Trump” (Parem Trump, em inglês), foi acompanhada por mais de 1.600 agentes de segurança, de acordo com a polícia da capital.
Alguns cartazes exibidos pelos manifestantes traziam dizeres como “Migrantes são bem-vindos, Trump não é bem-vindo”, “Não ao racismo, não a Trump” e “Bombardear crianças em Gaza e festejar no Reino Unido”.