A eleição presidencial do Chile entrou em novo ritmo nesta quarta-feira (17), com o início oficial das campanhas para o pleito de 16 de novembro, que pode sinalizar um retorno da direita ao poder.
Os principais concorrentes são uma candidata da coalizão de esquerda do Partido Comunista, Jeannette Jara, e dois conservadores. Um deles é José Antonio Kast, do Partido Republicano, político de ultradireita que perdeu o segundo turno para o atual presidente esquerdista Gabriel Boric em 2021. Kast e Jara têm se alternado na dianteira das preferências.
O outro nome forte do arco conservador na disputa é o de Evelyn Matthei, experiente política da tradicional União Democrática Independente, que foi ministra do Trabalho e Previdência do governo de Sebastián Piñera de 2011 a 2013 e prefeita de Providencia, na Grande Santiago.
Matthei liderou as pesquisas no início do ano, mas desde então perdeu força e tem tido dificuldades para recuperar o ímpeto. Atualmente, aparece em terceiro lugar, com 18%, segundo os últimos números do instituto Cadem, divulgados no domingo.
Kast e Jara trocaram mais ataques durante o primeiro debate televisionado com os oito candidatos, na última quarta-feira. A pesquisa Cadem não mostrou mudanças significativas após a aparição de ambos na TV: com empate técnico, Jara tinha 26%, e Kast, 25%.
Boric, que não pode concorrer à reeleição consecutiva, chegou ao poder impulsionado por uma onda de otimismo de esquerda que, em grande parte, se dissipou. Sua vitória foi o ápice de um processo que começou com amplos protestos contra a desigualdade em 2019 e culminou com uma Constituinte de maioria independente e de esquerda em 2021, encarregada de redigir uma nova Carta.
No entanto, os eleitores rejeitaram amplamente a Constituição progressista, enquanto o aumento da criminalidade, a imigração e a instabilidade econômica forçaram o governo a mudar o foco.
A segurança continua sendo um ponto sensível para muitos eleitores. Embora o Chile ainda seja um dos países mais seguros da América Latina, o aumento da violência, grande parte ligada ao crime organizado, abalou a nação e prejudicou o crescimento econômico.
“O crime se tornou um tema relevante no Chile, os dados confirmam isso, mas acredito que, mais importante, é a percepção de insegurança e o medo das pessoas”, disse Michael Shifter, pesquisador sênior do Inter-American Dialogue e professor de estudos latino-americanos em Georgetown.
“Acho que há um contraste nítido de 2021 para 2025. Isso se tornou uma preocupação crescente.”
Kast propõe fechar fronteiras, criar presídios de segurança máxima para isolar líderes do crime organizado e enviar militares para bairros com alta criminalidade.
Jara, por sua vez, defende o aumento de recursos para a polícia, programas sociais e triagem biométrica nas fronteiras.
Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos em 16 de novembro, haverá segundo turno em 14 de dezembro.
A eleição pode representar mais uma reversão da “onda rosa”, que colocou a esquerda no poder em várias nações latino-americanas desde o início dos anos 2000. Já houve guinadas à direita na Argentina, Bolívia e Equador.
Colômbia e Brasil terão eleições presidenciais no próximo ano, nas quais líderes de esquerda concorrem à reeleição e enfrentarão rivais da direita. Shifter afirma que as disputas apresentam fatores únicos, como a direita fragmentada da Colômbia e o “fator Trump” no Brasil .