O tribunal de paz da Colômbia sentenciou nesta quinta-feira (18) pela primeira vez, e com a pena máxima, 12 militares da reserva pelo assassinato e desaparecimento de civis que foram apresentados como guerrilheiros mortos em combate.
Incluindo dois coronéis, os ex-militares deverão realizar trabalhos restaurativos para os familiares das vítimas durante oito anos, de acordo com a decisão da Jurisdição Especial para a Paz (JEP), criada a partir do acordo de paz com a guerrilha das Farc em 2016.
Os ex-militares reconheceram sua responsabilidade em 135 homicídios e desaparecimentos forçados de 2002 a 2005 na costa do Caribe colombiano, em um crime conhecido como “falsos positivos”.
“Nenhum colombiano deveria ter morrido como resultado de uma trama criminosa encarregada de selecionar, assassinar e fazer desaparecer pessoas inocentes com o único objetivo de convertê-las em números”, disse o presidente do tribunal, Alejandro Ramelli, durante o ato de apresentação da sentença em Bogotá.
Como parte de suas sanções, os ex-militares deverão apoiar a construção de memoriais e centros comunitários em localidades indígenas do Caribe. Sua mobilidade será restrita aos locais onde sejam realizados os trabalhos de reparação.
Milhares de jovens, em sua maioria pobres e desempregados, foram assassinados de forma sistemática no meio da ofensiva militar contra organizações ilegais como as Farc. Com esses crimes, buscava-se inflar as estatísticas de êxitos militares e, em troca, os envolvidos recebiam benefícios como dias de descanso ou condecorações.
“Há algo de satisfatório: se eles tivessem sido condenados pela justiça comum, eu nunca teria sabido o que aconteceu com meu filho, nem que ele pediu para falar comigo antes de o matarem”, disse Blanca Monroy, mãe de Julián, assassinado aos 19 anos e que tentaram fazer passar por uma pessoas que extorquia pecuaristas em uma região fronteiriça com a Venezuela.
Segundo a JEP, os principais responsáveis são membros das forças militares, em algumas ocasiões em aliança com outros grupos armados ou civis. A defesa pode recorrer da sentença, e, para isso, serão levados em conta os anos que alguns deles passaram na prisão para a possível redução das penas.
O tribunal documentou pelo menos 6.402 casos de “falsos positivos” de 2002 a 2008, durante a presidência do direitista Álvaro Uribe, popular por sua mão dura contra a insurgência. O ex-mandatário, crítico do acordo de paz, nega que esses assassinatos seletivos tenham sido uma política de governo.
Vários de seus ex-comandantes compareceram perante a JEP. Os casos mais representativos desses assassinatos foram registrados no Caribe colombiano e na fronteira com a Venezuela, para onde os jovens eram enganados e levados em caminhões, para depois serem assassinados e enterrados em valas comuns. Em algumas ocasiões, eram apresentados à imprensa vestidos como guerrilheiros. O trabalho de suas mães desesperadas para encontrá-los revelou o pior escândalo já enfrentado pelas forças militares.