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Extrema direita lidera casos de violência política nos EUA – 19/09/2025 – Mundo

Em 10 de setembro, Charlie Kirk, um ativista de direita, foi morto a tiros enquanto discursava em uma universidade em Utah. Embora um suspeito esteja preso, a motivação do assassinato ainda é desconhecida. O presidente Donald Trump, que também já foi alvo de atiradores, atribuiu a culpa à retórica da “esquerda radical”. Avaliar a violência política nos Estados Unidos é inerentemente subjetivo: os analistas devem determinar quais formas de violência são consideradas políticas e atribuir rótulos ideológicos aos agressores ou vítimas. Mas os estudos e conjuntos de dados disponíveis —em grande parte compilados por pesquisadores que conservadores céticos provavelmente descartariam como tendenciosos— sugerem que o assassinato de Kirk não é representativo de tendências mais amplas.

Distinguir loucos e militantes nunca é simples, mas o Prosecution Project, liderado por Michael Loadenthal, da Universidade de Cincinnati, analisa casos criminais envolvendo violência política para verificar quais ideologias são mais comuns. O projeto examina queixas criminais, indiciamentos e registros judiciais, buscando crimes que buscam “uma mudança sociopolítica ou comunicação” com públicos externos, afirma Loadenthal. Seus dados mostram que extremistas tanto de esquerda quanto de direita cometem violência, embora mais incidentes pareçam vir de agressores de direita. Os números, no entanto, não capturam a gravidade do crime nem o número de mortos. Em 2001, por exemplo, houve mais casos de violência de direita do que ataques de islâmicos, embora os ataques do 11 de Setembro da Al-Qaeda tenham matado quase 3.000 pessoas naquele ano.

Um artigo de Celinet Duran, da Universidade Estadual de Nova York em Oswego, estudou a violência política entre 1990 e 2020. Constatou-se que houve ataques muito mais frequentes e mortais da extrema direita do que da extrema esquerda, embora a violência da esquerda tenha aumentado ao longo do período do estudo. Uma contagem separada da Liga Antidifamação mostra que 76% dos assassinatos relacionados ao extremismo na última década foram cometidos por pessoas da direita. Essas contagens, no entanto, dependem de como o extremismo é definido e como a ideologia é atribuída. A Liga Antidifamação usa registros públicos, como reportagens da mídia e processos policiais, para chegar a esses números. Mas aqueles que cometem violência frequentemente deixam um rastro confuso de ressentimentos que desafiam uma classificação fácil, e alguns são claramente doentes mentais.

Não existe uma definição única de violência política e nenhum banco de dados federal. O Banco de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), outro grupo de pesquisa, a define como o uso da força com propósitos ou efeitos políticos. Segundo sua contagem, 37 pessoas foram mortas em ataques desse tipo nos EUA este ano, e 373 desde 2020. Os incidentes que classifica como políticos variam de um tiroteio em julho no centro de Manhattan, quando um homem matou quatro pessoas na sede da NFL, culpando a liga por seus supostos ferimentos cerebrais; até ataques mais diretos, como o tiroteio fatal de dois funcionários da embaixada israelense em Washington.

A maioria dos americanos rejeita a violência política. Menos de um em cada dez afirma apoiá-la, com pouca diferença entre esquerda e direita. No entanto, isso deixa potencialmente milhões dispostos a tolerar a violência —e uma parte deles dispostos a cometê-la— em um país inundado de armas. Kirk, ele próprio um defensor do direito ao porte de armas, disse certa vez que alguns tiroteios eram um preço que valia a pena pagar pela proteção do direito constitucional de portar armas. Mas ele não defendia a violência política e apreciava o debate.

Manifestantes ou ativistas políticos, como Kirk, são alvos frequentes de terrorismo nos Estados Unidos, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank em Washington. O CSIS define terrorismo como a violência praticada por atores não estatais com a intenção de atingir objetivos políticos por meio de impacto psicológico. Ele se baseia em dados do ACLED e analisa propaganda e reportagens da mídia. Ataques que visam indivíduos aleatoriamente, como o tiroteio em massa de 2022 em um supermercado em Buffalo, são os mais comuns. Entre 2020 e 2025, o governo foi o segundo alvo mais frequente.

Dados do CSIS também mostram que, após uma calmaria no início dos anos 2000, ataques terroristas e conspirações contra alvos do governo —incluindo políticos e funcionários públicos— estão aumentando novamente. O crescimento daqueles motivados por convicções políticas partidárias é particularmente impressionante: entre 2016 e 2025, houve 25 incidentes desse tipo, em comparação com apenas dois nos 22 anos anteriores.

Isso marca uma mudança em relação a épocas anteriores. Alguns movimentos sociais na década de 1960 foram brutalmente violentos, mas não partidários, observa Lilliana Mason, da Universidade Johns Hopkins: “Não era que os democratas estivessem de um lado e os republicanos do outro.”

Ataques e conspirações tornaram-se mais comuns nas últimas décadas, mas o panorama é mais nebuloso em relação a ameaças e assédio. A Polícia do Capitólio investigou mais de 9.000 ameaças contra membros do Congresso no ano passado, contra menos de 4.000 em 2017. John Roberts, presidente da Suprema Corte, alertou sobre o aumento das ameaças a juízes federais em seu relatório de fim de ano de 2024.

Nos últimos meses, no entanto, a Bridging Divides Initiative (BDI), um grupo de pesquisa da Universidade de Princeton, registrou um declínio nas ameaças e assédios direcionados a autoridades locais após atingirem o pico em 2024, quando houve 600 incidentes —um aumento de 14% em relação a 2023 e de 74% em relação a 2022. Em pesquisas, mais de 70% das autoridades locais disseram que a hostilidade decorreu de seu apoio a questões específicas. Sejam feitas por meio de tuítes ameaçadores ou confrontos presenciais, as ameaças assustam as autoridades locais. Nas pesquisas do BDI, dois quintos deles afirmam que preocupações com hostilidade os tornaram menos dispostos a trabalhar em temas controversos ou a concorrer à reeleição.

Os pesquisadores enfatizam que ataques violentos continuam raros. “A quantidade de violência política real que ocorreu não chega nem perto do que era na década de 1960”, diz Mason. Ela também observa uma tendência diferente: ataques contra figuras políticas para chamar a atenção, não para promover uma causa. “Muitas dessas pessoas provavelmente teriam cometido violência de alguma forma”, diz ela. “Acontece que nossa política praticamente os direcionou para alvos políticos.”

Texto do The Economist, traduzido por Gabriel Barnabé, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado aqui.

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