
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma carta endereçada ao presidente Donald Trump, 11 senadores do Partido Democrata criticam a decisão do mandatário de ameaçar uma guerra comercial com o Brasil ao aplicar uma sobretaxa de 50% às exportações brasileiras. Se for mantida, a tarifa começa a valer em 1º de agosto.
O documento foi encabeçado pelos senadores Tim Kaine, da Virgínia, e Jeanne Shaheen, de New Hampshire, ambos integrantes de comitês de relações exteriores no Senado americano. Kaine é o autor de uma resolução que buscava derrubar as tarifas de Trump ao Canadá. A medida foi aprovada no Senado com apoio de quatro republicanos, mas o texto não chegou a ser analisado na Câmara.
Na carta divulgada nesta sexta-feira (25), os senadores afirmam estar preocupados com o que chamam de “claro abuso de poder inerente à recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil”. Os dois países, dizem os congressistas, têm questões comerciais legítimas e que devem ser discutidas e negociadas.
“No entanto, a ameaça tarifária de sua Administração claramente não está relacionada a isso. Nem se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit comercial de bens de US$ 7,4 bilhões com o Brasil em 2024, e não registram um déficit comercial com o Brasil desde 2007.”
A sobretaxa de 50% e a determinação para o início de uma investigação comercial contra o Brasil buscam, segundo os senadores, interferir no judiciário brasileiro e livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da investigação que apura sua participação nos atos golpistas de 8 de janeiro.
“Interferir no sistema legal de outra nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação”, dizem.
“Ele [Bolsonaro] é acusado de trabalhar para minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e planejar um golpe de Estado. Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, enfraquece a influência da América no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região.”
Os senadores também citam a proibição da entrada nos Estados Unidos do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de parentes, e de “seus aliados” na corte, punição anunciada após o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ter feito um périplo por Washington em busca de punições ao ministro do STF nos últimos meses.
A medida, dizem, mostra mais uma vez como a gestão Trump coloca seus interesses pessoais à frente dos interesses dos americanos. Os senadores defendem no documento que a decisão de sobretaxar os produtos brasileiros comprados pelos Estados Unidos terá efeitos sobre o custo de vida das famílias e negócios americanos.
“Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões anualmente do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio EUA-Brasil sustenta quase 130 mil empregos nos Estados Unidos, que são colocados em risco pela ameaça de elevar tarifas.”
Também assinam a carta os senadores Adam Schiff, da Califórnia, Dick Durbin, de Illinois, Kirsten Gillibrand, de Nova York, Peter Welch, de Vermont, Catherine Cortez Masto, de Nevada, Mark R. Warner, da Virgínia, Jacky Rosen, de Nevada, Michael Bennet, do Colorado, e o reverendo Raphael Warnock, da Geórgia.
Os senadores também veem como efeito da guerra comercial travada por Trump aproximação ainda maior do Brasil com a China “em um momento em que os Estados Unidos precisam conter de maneira agressiva a influência da China na América Latina”.
Essa aproximação aparece, segundo os congressistas americanos, por meio de investimentos anunciados por empresas estatais ou ligadas ao governo chinês. Eles citam ainda o memorando assinado no início de julho por Brasil e China para iniciar estudos para um corredor ferroviário ligando os oceanos Atlântico, no Brasil, e Pacífico, no Chile.
Para esses senadores, as ações do governo Trump podem alienar a influência dos Estados Unidos em toda a América Latina, algo que, segundo eles, já vem acontecendo no Leste e Sudeste da Ásia.
“Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentarão o ceticismo sobre a influência americana em toda a região e fornecerão maior credibilidade aos funcionários da República Popular da China e às empresas apoiadas pelo Estado para sua agenda.”